“Pode ter descumprido o que
prometeu. Pode ter maus bofes. Pode ter cavado a própria cova. Mas, num mundo
político esmerdeado de alto a baixo, Dilma não tem nódoa. Não roubou, e será
julgada por muitos ladrões”, diz o jornalista Mario Sergio Conti, em artigo
publicado na Folha de São Paulo nesta terça-feira (29)
Em artigo publicado nesta terça-feira (29) na
Folha de S.Paulo, o jornalista Mario Sergio Conti afirma que a presidente Dilma
Rousseff transmitiu a convicção de que é inocente.
“Pode ter descumprido o que prometeu.
Pode ter maus bofes. Pode ter cavado a própria cova. Mas, num mundo político
esmerdeado de alto a baixo, Dilma não tem nódoa. Não roubou, e será julgada por
muitos ladrões”, diz.
“Pedaladas fiscais? Ninguém sabe o que é
isso, e quem sabe garante que prefeitos, governadores e presidentes primam por
pedalar. Empresas venais deram dinheiro para a sua campanha? Fizeram o mesmo
com todos os candidatos. Afundou o país na recessão? Nada diz que Temer irá
tirá-lo do poço. Não há fiapo de prova de que tenha obstruído a Justiça”,
acrescenta.
No entanto, ele questiona sua
permanência no governo: “crise foi tão longe que o carisma da integridade
pessoal não garante, por si só, a permanência de Dilma no poder. Continua a lhe
faltar um programa. Quer continuar no Planalto para quê?”.
Leia
a íntegra do texto de Mario Sergio Conti abaixo:
Agora que os ratos debandam do navio, na
busca incansável do bem da pátria, de negócios maneiros e da nomeação de uma
sobrinha para miss na Festa do Jerimum, o naufrágio soa inevitável. Mas
alardear certeza na queda da presidente é apenas uma poção para paralisar o
Planalto.
A frente única Fiesp-tucanos-Vem pra Rua
se consolidou e quer meter medo. A Medusa diz aos governistas: vocês já eram, a
hora é de trair, salve-se quem puder. Dilma, faça como Jango e se coagule em
esfinge de mármore. PT, repita o Partido Comunista e se limite a berrar
bravatas.
Trombetear que a história punirá os
golpistas, por exemplo, é bravata. Nenhum deles foi tirado da santa paz. Nunca.
É o que de fato a história ensina. Nem em 1930 e 1937. Nem em 1964 e 1968. Nem,
de quebra, em 1984, quando a Câmara vetou o voto direto para presidente.
A avacalhação da vontade popular foi
docemente tolerada. Inclusive pelo PT. Como o partido garantiu a impunidade de
policiais e militares assassinos, os autoritários estão agora todos aí,
serelepes.
O Dia D será o da votação do
impeachment. Ele se dará em data incerta, entre abril e maio, a depender dos
ardis de Eduardo Cunha, o Impoluto. Haverá até lá delações vulcânicas, teorias
conspiratórias e conspiração para valer. Virão mais manifestos e
abaixo-assinados.
O bate-boca a todos engolfa. A cacofonia
que emana do Planalto não escapa aos ditames da sociologia clássica. A política
continua a ser exercida das três maneiras cardeais. A tradicional, a legal e a
carismática.
No modo tradicional, Dilma é a líder
maior. Ela tem legitimidade porque foi votada para gerir o Estado. Na prática, a
presidente vem nomeando capadócios para postos-chaves do Estado, em troca de
votos contra o impeachment. O troca-troca tradicional, de corrupção implícita,
é usado explicitamente.
No aspecto legal, o exercício do poder é
enquadrado pelas instituições encarregadas de aplicar a Constituição. Ao
contrário do que dizem políticos sem nada a dizer, não há judicialização da
política, e sim politização da Justiça. O Supremo fará o que for decidido pelo
cenáculo de varões de Plutarco, a Câmara. A separação entre os Poderes é uma
lenda iluminista.
O terceiro elemento político é o
carisma, e o da presidente é escasso. Nas suas falas recentes, porém, ela foi
tomada por uma calma contundente. Levou frases até o fim sem interpolar
sujeito, verbo e objeto. Não hesitou nem gaguejou. Na falta de marqueteiros a
lhe atazanarem, foi clara.
Transmitiu a convicção de que é
inocente. Pode ter descumprido o que prometeu. Pode ter maus bofes. Pode ter
cavado a própria cova. Mas, num mundo político esmerdeado de alto a baixo,
Dilma não tem nódoa. Não roubou, e será julgada por muitos ladrões.
Pedaladas fiscais? Ninguém sabe o que é
isso, e quem sabe garante que prefeitos, governadores e presidentes primam por
pedalar. Empresas venais deram dinheiro para a sua campanha? Fizeram o mesmo
com todos os candidatos. Afundou o país na recessão? Nada diz que Temer irá
tirá-lo do poço. Não há fiapo de prova de que tenha obstruído a Justiça.
A crise foi tão longe que o carisma da
integridade pessoal não garante, por si só, a permanência de Dilma no poder.
Continua a lhe faltar um programa. Quer continuar no Planalto para quê?
Aqui entra o abelhudo do blogueiro: É
importante que Dilma continue no Planalto para, meu caro Sérgio Conti, não dá o
braço a torcer a essa quadrilha que quer tomar o poder de assalto. Para mostrar
que é possível termos um governo que combata a corrupção de verdade. Qual foi o
crime de Dilma? Mexer no ninho de corruptos instalados em Furnas, sob o comando
do presidente da Câmara, Eduardo Cunha, um dos ‘capitães do golpe’. O
suficiente para ser iniciado o processo de impeachment na Câmara. Portanto, é
imperiosa a resistência da presidente Dilma ao golpe e sua continuidade no
Planalto, para desespero dos golpistas.
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