Professor Emérito da Faculdade de
Direito da USP, Dalmo Dallari afirma que grampo e gravação de conversa entre
Lula e Dilma configura dupla ilegalidade.
“A rigor, o tribunal deveria afastá-lo, o tribunal a qual ele é subordinado. Ele hoje, pelo deslumbramento, aparece na imprensa como uma figura pitoresca, diferente, então o tribunal pode ficar intimidado de puni-lo", diz sobre o juiz Moro.

Manuela Azenha, Revista Brasileiros
Para o jurista Dalmo Dallari, a ação de
grampear e divulgar o teor de conversas interceptadas pela Polícia Federal – e
que incluem uma conversa entre Lula e a presidenta Dilma Rousseff – configura
em uma dupla ilegalidade.
Sobre a divulgação de conversas
grampeadas, Dallari diz que a ação não tem previsão legal. “Houve ilegalidade da parte do juiz porque esses dados são reservados e
essa publicidade que ele deu é absolutamente ilegal. É quebra do direito de
privacidade de qualquer pessoa, não importa quem seja a pessoa, pode estar
sendo processada, acusada, ele não tem o direito de fazer essa divulgação.
Quando se trata da presidenta da República é pior ainda. É a invasão da
privacidade da autoridade máxima federal. Eu acho que essa divulgação não tem
uma previsão legal, ela não deve ser feita. Não há a mínima justificativa
legal, o juiz está ignorando os deveres éticos e jurídicos da magistratura.
Essa é a minha conclusão. Estou acompanhando o desempenho dele“.
O jurista diz ainda que Moro está
“desequilibrado e deslumbrado com a louvação em torno dele como salvador da
pátria” e deveria ser afastado de sua função:
“A rigor, o tribunal deveria afastá-lo, o tribunal a qual ele é subordinado.
Ele hoje, pelo deslumbramento, aparece na imprensa como uma figura pitoresca,
diferente, então o tribunal pode ficar intimidado de puni-lo, mas existe base
para punição e o tribunal deveria punir por quebra de dever funcional“.
Dallari diz que, se tratando da
Presidência da República, um juiz de primeira instância não poderia fazer a
interceptação de uma conversa que a envolva, tampouco divulgá-la. “O grampo só é possível com autorização
judicial, mas no caso da Presidência da República, um juiz de primeira
instância não poderia fazer isso. Ela tem foro privilegiado, só o STF poderia
autorizar uma coisa dessas. Ele não poderia ter grampeado e nem divulgado
depois que grampeou. Ele cometeu uma dupla ilegalidade“.
Apesar das arbitrariedades jurídicas,
Dallari não enxerga tentativa de golpe contra Dilma. “É puro carnaval, pura fantasia. Não tenho medo porque acho que temos
uma ótima Constituição e ela assegura direitos fundamentais. Não há ambiente,
não tem ninguém que tenha condições de aplicar efetivamente um golpe. E nem
existe liderança na oposição para isso, estão todos perdidos, muitos grupos
brigando entre si, disputando por ganhar maior evidência, mas não há um grande
líder e nem propostas, um projeto. Não há o risco porque não sabem o que
fazer“.
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