Novo delator reforça acusação de
propina. Nos próximos dias, mais depoimentos. Se Dilma cair, Cunha pode
escapar, diz presidente.
por André Barrocal
Carta Capital
O presidente da Câmara, Eduardo
Cunha (PMDB-RJ), queria ter sossego e ver deixada de lado a investigação de seu
decoro parlamentar enquanto articula a derrubada de Dilma Rousseff. Enganou-se.
O Conselho de Ética voltou à ativa para infernizá-lo bem na reta final do
impeachment.
Após meses travado por manobras
de Cunha, o Conselho ouviu nesta quinta-feira 7 o primeiro depoimento no
processo que apura a conduta do peemedebista. Era Leonardo Meirelles,
sócio-laranja do doleiro Alberto Youssef, preso na Operação Lava Jato.
Meirelles acaba de selar um
acordo de colaboração com a Procuradoria Geral da República e prestou informações
ao Conselho a confirmar a acusação de que o deputado arrancou 5 milhões de
dólares em propina ao chantagear um lobista atuante na Petrobras. Dinheiro de
origem “ilícita”, disse Meirelles.
Nos próximos dias, integrantes
do Conselho irão a Curitiba, centro geográfico da Lava Jato, para ouvir gente
presa sobre Cunha. A operação foi autorizada pelo juiz Sergio Moro e pelo
ministro Teori Zavascki, do Supremo Tribunal Federal, relator de processos
contra o deputado no STF. Um dos depoentes será o lobista supostamente achacado
por Cunha, Júlio Camargo.
O Conselho também pediu a
Zavascki, ao procurador-geral da República, Rodrigo Janot, e ao Banco Central
(BC) o compartilhamento de material existente em apurações contra Cunha. Todos
toparam ceder o que não for sigiloso, o BC até já enviou o que tinha.
Promessa de um farto noticiário
negativo para o deputado, a ser alimentado via Conselho e que não se restingirá
ao foco central do pedido de cassação do peemedebista, a acusação de ele ter
mentido aos pares e ao fisco sobre contas no exterior.
Tudo isso significa que a
cassação de Cunha é questão de tempo, talvez em maio, quando se espera uma
decisão do Conselho? “Se a Dilma cair, talvez a situação dele melhore, ele terá
mostrado força política e vai querer usar essa força em seu favor”, diz o
presidente do Conselho, José Carlos Araújo (PR-BA).
O atrelamento do futuro de Cunha
ao de Dilma é uma marca do impeachment. O deputado resolveu dar andamento ao
pedido de deposição da petista em 2 de dezembro, cerca de quatro horas depois
de o PT anunciar que votaria pela cassação dele no Conselho.
Naquele mesmo dia, um dos
autores do pedido de impeachment, o jurista Miguel Reale Jr, ministro da
Justiça no governo Fernando Henrique Cardoso, declarou a O Estado de S. Paulo
ter havido uma “chantagem explícita” por parte do presidente da Câmara.
A gênese vingativa do
impeachment foi recapitulada na Câmara pelo advogado-geral da União, José
Eduardo Cardozo, na segunda-feira 4, antevéspera da divulgação do parecer
pró-cassação de Dilma. O governo torce para a ideia da vingança se disseminar
na sociedade e entre os parlamentares para, quem sabe, isso ajudar a salvar o
mandato presidencial.
Uma esperança que não é sem
cabimento, a julgar por um desabafo feito no Conselho de Ética, durante o
depoimento de Meirelles, por um deputado de um partido prestes a tomar uma
posição formal a favor do impeachment, Julio Delgado (PSB-MG).
“Se o jogo aqui é o jogo de um
(Cunha) contra o outro (Dilma), meu amigo, nego está agindo errado aqui,
tirando voto de quem é favorável ao afastamento pelo processo de impeachment”,
disse Delgado. “Se isso (impeachment) servir para protegê-lo (Cunha) aqui (no
Conselho), vai mudar minha posição com relação a isso (impeachment).”
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