“Claro que a administração pode revogar os seus próprios atos. Não teria problema nenhum o presidente da Câmara revogar a sua decisão. Mas o modo como foi feito é estranho, porque não teve motivação nenhuma”, disse o ministro.
![]() |
Eugênio Aragão, Ministro da Justiça |
Pedro Peduzzi
Agência
Brasil
O ministro da Justiça, Eugênio Aragão,
disse ter estranhado a forma como o presidente em exercício da Câmara dos Deputados,
Waldir Maranhão (PP-MA), revogou a decisão de anular a sessão da Câmara que
autorizou o Senado a deliberar sobre o impeachment da presidenta Dilma
Rousseff. De acordo com o ministro, está evidente que, por trás disso, há o
que, em suas palavras, é avaliado como “fenômeno das pressões políticas
ilegítimas”.
Segundo Aragão, o problema é a forma
como a revogação foi feita na noite de ontem (9). “Claro que a administração
pode revogar os seus próprios atos. Não teria problema nenhum o presidente da
Câmara revogar a sua decisão. Mas o modo como foi feito é estranho, porque não
teve motivação nenhuma”, disse o ministro.
“Já que o ato [a anulação da sessão do
impeachment] foi tão motivado e levou a tanta celeuma, por que o desfazimento
daquele ato não teve motivação? Acredito que por trás disso temos, mais uma
vez, o fenômeno das pressões políticas ilegítimas. Isso parece muito evidente”,
disse o ministro.
Eugênio Aragão disse que Maranhão teria
respondido a uma consulta feita pelo presidente da comissão especial do senado,
Raimundo Lira (PMDB-PB), a respeito de pendências na Câmara dos Deputados.
Consulta esta que, segundo Aragão, não tinha sido respondida por Eduardo Cunha.
Foi para respondê-la que Maranhão verificou a pendência de questões que não tinham
sido tratadas a tempo.
“Claro que as duas teses podem ser
tratadas. Uma é a tese da preclusão [perda do direito de agir nos autos]; sobre
se essas questões estavam preclusas no momento em que abriu a discussão do
impeachment no Senado. A outra é quanto à extensão das supostas nulidades
alegadas na Câmara, sobre a continuidade no Senado. São duas questões jurídicas
antagônicas e duas teses que me parecem bastante sólidas, e que podem ser
confrontadas”, disse o ministro.
“O fato é que, retirando, sem motivação
nenhuma, a sua decisão anterior, continuamos tendo uma zona cinzenta de dúvidas
sobre haver ou não a nulidade. Haveria a possibilidade de os partidos fecharem
questão sobre o impeachment ou não havia essa possibilidade? Infelizmente, o
despacho feito agora pelo presidente em exercício da Câmara não foi
esclarecedor. Portanto, deixa pairar uma dúvida no ar”, acrescentou.
A dúvida, segundo ele, poderá ser
arguida pela Advocacia-Geral da União no Supremo Tribunal Federal ou mesmo no
próprio Senado. “É de se estranhar, neste momento, a avidez com que certos
atores políticos buscam criar uma situação definitiva, quando, ainda, os
argumentos da defesa estão longe de estar exauridos e conhecidos pelas
instâncias que deverão julgar”, argumentou o ministro.
Nenhum comentário:
Postar um comentário