Os
valores entregues por João Carlos Lyra, segundo a PF, teriam origem nas obras
da Refinaria Abreu e Lima, realizada pela Petrobrás no Estado de Pernambuco

Fábio Serapião, Fábio Fabrini e Ricardo
Brandt
O Estado de São Paulo
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Eduardo Campos e Fernando Bezerra teriam recebido propina da Camargo Corrêa |
Ao indiciar 20 investigados na Operação
Turbulência, a Polícia Federal apontou o empresário João Carlos Lyra Pessoa de
Melo Filho como líder de suposto grupo criminoso e encarregado de entregar
propina da empreiteira Camargo Corrêa ao ex-governador Eduardo Campos – morto
em acidente aéreo em agosto de 2014 – e ao senador Fernando Coelho Bezerra
(PSB-PE), pai do ministro das Minas e Energia do governo interino Michel Temer
(PMDB), Fernando Filho.
Os valores entregues por João Carlos
Lyra, segundo a PF, teriam origem nas obras da Refinaria Abreu e Lima,
realizada pela Petrobrás no Estado de Pernambuco. A Abreu e Lima é alvo de
outra Operação da PF, a Lava Jato.
De acordo com a PF, Lyra assinou o Termo
de Intenção de Compra e se apresentou formalmente como o único comprador do
avião Cessna Citation PR-AFA que caiu em Santos, há dois anos, matando Eduardo
Campos, o então candidato à presidência pelo PSB.
A informação sobre a atuação de Lyra foi
detalhada à delegada Andrea Pinto Albuquerque pelos ex-funcionários da Camargo
Corrêa, Gilmar Pereira Campos e Wilson da Costa. De acordo com os
ex-funcionários, para viabilizar o pagamento, a empreiteira realizou um contrato
fictício com a Construtora Master. O objeto do contrato seria a terraplanagem
na obra da refinaria de Abreu e Lima, mas o serviço nunca foi prestado.
Os valores arrecadados com os contratos
fraudulentos, diz a PF, eram repassados para João Carlos Lyra por meio de
entregas de dinheiro vivo e por meio de depósitos em contas de grupo de
empresas de fachadas em nome de laranjas ligados ao líder do grupo criminoso.
“Conforme consta nas declarações
gravadas de Wilson da Costa, a partir da realização dos saques na conta da
Construtora Master por ‘Zé Gomes’, este entregava o numerário ao próprio
Wilson, o qual, por sua vez, os remetia a João Carlos. As entregas (em torno de
cinco ao todo) foram realizadas numa rua “por trás da loja Ferreira Cota”, no
bairro da Imbiribeira, nesta capital(Recife)”, explica a delegada em seu
relatório.
O inquérito da Turbulência investiga uma
organização criminosa responsável pela criação e manutenção de uma série de
empresas de fachadas utilizadas, segundo a PF, para fazer circular “recursos de
origem espúria” de modo a ocultar os rementes e destinatários desses valores.
Embora a investigação tenha origem na
queda do avião Cessna Citation, prefixo PR-AFA, que matou o então candidato à
presidência pelo PSB, Eduardo Campos, a delegada Andrea Pinho compartilhou
informações com a força-tarefa da Lava Jato em Curitiba e com o grupo de
investigadores da Procuradoria-Geral da República.
Em busca dos verdadeiros proprietários
do jatinho, os investigadores da Turbulência mapearam uma teia de empresas de
fachada utilizadas para lavar e supostamente escoar dinheiro oriundo de obras
públicas para campanhas políticas. Estão na mira da PF repasses da Camargo
Corrêa e da OAS que teria origem em desvios praticados em obras da Petrobras
realizadas no Estado e na transposição do Rio de São Francisco.
Além de entregador de propina da Camargo
Corrêa, segundo a PF, Lyra também teria utilizado as contas de empresas de
fachada operadas por ele para escoar valores provenientes da OAS. De acordo com
a PF, entre 2010 e 2014, foram registradas ao menos 90 transações entre a
construtora as empresas ligadas a Lyra que somaram R$ 14 milhões.
“Inegável, ainda, que ele (Lyra) teria
utilizado tais contas para aportar recursos provenientes de contratos
superfaturados executados pela OAS, em troca da entrega de dinheiro em espécie
que serviria de pagamento de propina a políticos e funcionários públicos
devidos por aquela empreiteira, dissimulando a natureza criminosa dos valores
recebidos”, sustenta a delegada da PF.
COM
A PALAVRA, A DEFESA DE JOÃO CARLOS LYRA:
“A defesa de João Lyra nega que ele
tenha praticado qualquer irregularidade. Todos os esclarecimentos serão dados
nos autos do processo.”
COM
A PALAVRA, O PSB:
Questionado em nome do falecido
ex-governador Eduardo Campos, o PSB afirmou que reitera a sua confiança na
“conduta sempre íntegra do ex-governador de Pernambuco Eduardo Campos e o apoio
incondicional ao trabalho de investigação da Polícia Federal e do Ministério
Público, esperando que resulte no pleno esclarecimento dos fatos”.
COM
A PALAVRA, A ASSESSORIA DE FERNANDO BEZERRA:
O senador Fernando Bezerra Coelho, por
meio de sua assessoria, disse que “não é investigado na operação Turbulência” e
informou, como ratificação, que nunca coordenou “nenhuma campanha de Eduardo
Campos”
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