Polícia paulista interceptou carta
supostamente assinada pelo Comando Regional Norte, que circula em grupos de
WhatsApp
Alexandre
Hisayasu
O
Estado de S. Paulo
SÃO PAULO - A Polícia Civil de São Paulo
investiga se o Primeiro Comando da Capital (PCC) já teria repassado a “ordem”
para que bandidos aliados se mobilizem para se vingar da facção criminosa
Família do Norte (FDN), que matou 60 presos em penitenciárias do Amazonas.
O ponto de partida para a investigação é
uma carta supostamente assinada pelo Comando Regional Norte do PCC, que circula
em grupos de WhatsApp. Em um dos trechos, diz-se que “essa dita facção FDN será
dizimada da face da terra”. Para isso, afirmam que contam com o apoio de
bandidos do exterior e até de facções rivais.
A união dos criminosos seria porque a
FDN, ao promover o massacre em Manaus, quebrou o “código de ética” do crime,
que impõe uma suposta convivência com grupos rivais, pois a “meta” sempre foi
“lutar contra o Estado e não contra nossos irmãos mesmo que de outras
organizações fossem”.
Diz o texto: “Saibam que vocês (FDN)
declaram guerra não só ao PCC, mas a todos aqueles que lutam contra o Estado
corrupto brasileiro... Essa chacina foi uma declaração de guerra contra o
tráfico de drogas de todo o Brasil. Uma facção sozinha não será capaz de
destruir anos de aliança dos irmãos”. Os bandidos afirmam ainda que a guerra de
facções travada nos morros, nas periferias, nas favelas, vai ganhar as ruas.
Na carta, os criminosos se mostram
solidários às famílias das vítimas e dizem que vão providenciar indenização.
Pedem também ajuda financeira dos demais integrantes da facção criminosa para
complementar os valores.
O texto acaba com a conhecida saudação
do PCC “paz, justiça e liberdade”.
Força-tarefa
O Ministério Público Estadual do
Amazonas formou uma força-tarefa com 12 promotores que vão acompanhar as
investigações sobre o massacre de Manaus. As apurações vão desde descobrir quem
são os responsáveis pela matança até as suspeitas de irregularidades e
superfaturamento do sistema de terceirização da gestão prisional do Estado.
Segundo o presidente da Associação
Amazonense do Ministério Público, promotor Reinaldo Alberto Nery de Lima, o
grupo vai apurar pelo menos cinco frentes: a investigação do massacre, da
conduta dos gestores, dos contratos das empresas prestadoras de serviços,
situação dos presos provisórios e dos presídios do interior.
Ele disse que o Ministério Público,
juntamente com as demais autoridades, está atento para eventuais desdobramentos
no âmbito criminal por causa da chacina em Manaus. É investigada uma possível
participação de integrantes do PCC em oito assassinatos registrados em dez
horas na capital.
“A população fica assustada sem saber se
é uma coincidência (as mortes) ou não. Mas o Ministério Público também vai
acompanhar essa investigação”, afirmou.
Guerra. Para o promotor Lincoln Gakiya,
do Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (Gaeco), as mortes
em Manaus são uma consequência da guerra entre o PCC e o Comando Vermelho.
Segundo as investigações, as facções eram “parceiras” no tráfico de drogas, mas
ao longo do ano passado aconteceram vários desentendimentos. Depois da morte do
narcotraficante Jorge Rafaat, em junho, na fronteira com o Paraguai, houve o
rompimento definitivo. O motivo é que o PCC não aceitou dividir com o CV o
lucro do tráfico de drogas na fronteira daquele país.
Em outubro, 18 presos ligados ao PCC
morreram em rebeliões em presídios de Roraima e Rondônia, que são dominados
pela FDN, aliada do CV no tráfico de drogas na fronteira com a Bolívia.
Ainda segundo Gakiya, as investigações
apuraram que o PCC, após as mortes de outubro, fez um mapeamento de presos de
outras facções, principalmente do CV, que estão detidos em presídios paulistas.
A suspeita é de que se vai articular uma represália em algum momento. Nessa
guerra do tráfico, as investigações descobriram também que o PCC se aliou à
facção Amigos dos Amigos (ADA), que domina o tráfico na favela da Rocinha, no
Rio.
Nenhum comentário:
Postar um comentário