Secretário de
Administração Penitenciária do Amazonas (Seap), Pedro Florêncio, disse que
desconhece as motivações da nova rebelião, e confirmou que três pessoas foram
decapitadas e outra morreu por asfixia em celas incendiada
Kleiton Renzo e Fabio Serapião
O Estado de S. Paulo
MANAUS -
Quatro detentos foram mortos na madrugada deste domingo, 8, na cadeia pública
Desembargador Raimundo Vidal Pessoa, no Centro de Manaus. O secretário de
Administração Penitenciária do Amazonas (Seap), Pedro Florêncio, disse que
desconhece as motivações da nova rebelião, e confirmou que três pessoas foram
decapitadas e outra morreu por asfixia numa das celas incendiadas. O local
abriga os presos que foram transferidos do Complexo Penitenciário Anísio Jobim,
o Compaj, por não fazerem parte da facção Família do Norte. As equipes do
Instituto Médico Legal e da Polícia Militar estão no local.
Com as novas
vítimas, o número de presos mortos no Amazonas por conta dos desdobramentos da
guerra entre as facções FDN e Primeiro Comando da Capital (PCC) sobe para 64.
Em Boa Vista (RR), na semana passada, houve mais 33 mortos.
A Cadeia
Pública de Manaus estava desativada desde outubro do ano passado por conta das
péssimas condições de conservação, mas teve de ser reativada para abrigar os
presos que corriam risco de morte no Compaj.
Em nota, o
governo do Amazonas disse que a situação neste momento é considerada estável e
com policiamento reforçado pelo Batalhão de Choque da Polícia Militar. A
rebelião ocorreu por volta das 2h30 (horário local) da manhã e foi controlada
duas horas depois pelo Batalhão de Choque, informou a Secretaria de Segurança
Pública (SSP). Na última sexta, um princípio de motim já havia sido contornado
na Vidal Pessoal. Os detentos queriam melhores condições de alojamento e a
visita dos parentes.
O secretário
Pedro Florêncio confirmou as mortes ao Estado e afirmou não se tratar de briga
de facção pelo fato de não haver no local presos de grupo diferentes. "Não
houve briga de facção porque todo mundo era do mesmo grupo, todos eram presos
que eram ameaçados, que não tinham convivência, que estavam em áreas de seguro,
de isolamento, nos outros presídios", explicou.
"Quando
houve aquela rebelião, com as ameaças de matar eles também, nós os trouxemos
para cá. Chegou aqui, eles se matam entre si mesmo", disse o secretário.
"Quando eles entraram (Batalhão de Choque), já haviam acontecido as
mortes. Não houve reféns. Os motivos pelos quais eles mataram os próprios
companheiros fogem da minha compreensão".
OAB
Em entrevista
coletiva após visita à Cadeia Pública de Manaus, o diretor de Direitos Humanos
da Ordem dos Advogados do Brasil (AOB-AM), Epitácio Almeida, afirmou que, além
dos quatro mortos no presídio, há mais um detento que faleceu a caminho do
hospital nesta madrugada. Ainda de acordo com Almeida, cinco outros presos não
foram localizados na contagem realizada pela Secretaria de Administração
Penitenciária pela manhã, por isso são considerados foragidos.
Transferência
A Vidal Pessoa
tem 109 anos e estava desativada desde outubro do ano passado por falta de
estrutura para abrigar presos. A recomendação foi do Conselho Nacional de
Justiça (CNJ), mesmo assim, passou a receber detentos na segunda-feira, 2, após
a rebelião no Compaj e na UPP. A transferência dos detentos para a Vidal
Pessoal foi feita para isolar membros da facção Primeiro Comando da Capital
(PCC) dos membros da Família do Norte (FDN), e tentar evitar mais confrontos
nos presídios da capital.
Facções
A FDN é
apontada pela Polícia Federal como a terceira maior facção do Brasil - atrás
apenas do PCC e do CV. A organização criminosa surgiu por volta do ano de 2006
após a união de dois grandes traficantes amazonenses que cumpriam suas penas em
presídios federais. Gelson Lima
Carnaúba, o G, e José Roberto Fernandes Barbosa, o Pertuba, saíram do sistema
prisional federal com destino ao Amazonas “determinados ou orientados”, segundo
a PF, a estruturarem uma facção criminosa nos moldes do PCC e CV.
Chacinas
As mortes em
Manaus começaram na madrugada de primeiro de janeiro, quando 56 detentos foram
assassinados no Complexo Penitenciário Anísio Jobim (Compaj). No dia 2 de
janeiro, mais quatro mortos na Unidade Prisional do Puraquequara (UPP). Estão
na Vidal Pessoal 280 presos transferidos após o massacre no Compaj e na UPP.
Nenhum comentário:
Postar um comentário