Alvo de pelo
menos dois inquéritos no Supremo, maranhense vai comandar colegiado responsável
pela sabatina de ministro do STF
Julia Lindner
e Isabela Bonfim ,
O Estado de
S.Paulo
BRASÍLIA -
Investigado na Lava Jato, o senador Edison Lobão (PMDB-MA) foi indicado pelo
seu partido para presidir a Comissão de Constituição e Justiça (CCJ). Para
isso, ele contou com o apoio do líder da legenda, Renan Calheiros (AL), e do
ex-presidente José Sarney. Após a desistência de Raimundo Lira (PB), que também
pleiteava a vaga, Lobão foi eleito por aclamação.
Lobão é alvo
de inquérito no Supremo Tribunal Federal (STF) por supostamente integrar um
grupo do PMDB no Senado que agiu como organização criminosa para fraudar a
Petrobras. Ele também é investigado por ter atuado para desvios nas usinas de
Belo Monte e Angra 3, quando ministro de Minas e Energia do governo da
ex-presidente Dilma Rousseff.
Segundo Lobão,
investigações "não devem gerar constrangimento para ninguém".
"Se há acusações caluniosas contra mim, é bom que haja investigação para
que a denúncia seja arquivada, assim como já ocorreu em outros casos." No
ano passado, o procurador-geral da República, Rodrigo Janot, pediu o arquivamento
de dois inquéritos contra o senador no STF.
O parlamentar
disse que a disputa pela presidência da CCJ não deixará arestas na bancada do
PMDB e que manterá a amizade com Lira. O adversário, por outro lado, afirmou
que não quis disputar na bancada porque houve "ingerência externa" na
eleição. "E não foi o governo", completou. Questionado se a
interferência seria de Sarney, ele respondeu: "não sou eu quem está
dizendo".
Ao perceber
que a cúpula do PMDB apoiava Lobão, Lira cogitava disputar de forma avulsa na
CCJ, onde considerava ter a maioria dos votos. Instantes antes da eleição, ele
acabou desistindo da empreitada alegando que seria melhor "evitar
constrangimentos". "Não posso ser candidato avulso porque retirei meu
nome para ser membro da CCJ", alegou.
A indicação do
PMDB ainda precisa ser referendada de maneira simbólica na CCJ. Com a
confirmação de Lobão na presidência, ele organizará a sabatina do ministro
licenciado Alexandre de Moraes, indicado por Michel Temer para substituir Teori
Zavascki no Supremo Tribunal Federal (STF), morto em janeiro. Lobão disse que
precisa ser eleito oficialmente para instalar a CCJ. "Não vamos colocar os
carros na frente dos bois", brincou.
Belo Monte
Em depoimento
prestado em setembro de 2016 à Polícia Federal, o ex-gerente de Relações
Institucionais da Camargo Corrêa Gustavo da Costa Marques afirmou ter pago
propina em dinheiro em espécie ao senador peemedebista no esquema de corrupção
nas obras da Usina de Belo Monte. Costa Marques, que trabalhou por 16 anos para
a Camargo, é um dos colaboradores do acordo de leniência firmado pela
construtora e vários de seus dirigentes com o Ministério Público Federal (MPF)
no Paraná. Em 2011, ele passou a ser o responsável pelo escritório de
representação da empresa em Brasília e a ter ligações com Lobão.
Os delatores
da Camargo admitiram que 1% do valor do contrato da usina, tocado pela empresa
em consórcio com a Andrade Gutierrez e a Odebrecht, era repassado a políticos
do PT e do PMDB. Conforme depoimentos já revelados, ao menos R$ 2 milhões foram
pagos a Lobão por, supostamente, ter ajudado a criar o consórcio e para que não
impusesse obstáculos à obra. O caso é investigado em inquérito sigiloso no
Supremo. Lobão nega.
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