Anotação revela detalhes sobre repasses para Temer. São citados os amigos
do presidente José Yunes e João Baptista Lima Filho.
Fabio Serapião, Beatriz Bulla e Fábio Fabrini
O Estado de São Paulo
O diretor de relações Institucionais da holding J&F Ricardo Saud entregou
no seu acordo de colaboração com a Procuradoria-geral da república uma série de
planilhas e anotações relacionadas ao repasses das empresas do grupo para o
presidente Michel Temer. Em um das anotações, Saud elenca cinco repasses
atrelados a Temer que somam R$ 30 milhões.
Para os investigadores que atuaram em inquéritos sobre a JBS, a atuação
de Saud era indispensável para a inserção e aproximação de diretores da JBS no
meio político. O diretor da empresa é visto como o “Cláudio Melo Filho” da
holding J&F. Melo Filho é ex-diretor da relações Institucionais da
Odebrecht e assinou acordo de colaboração premiada no qual relatou o pagamento
de propina para diversos políticos.
O primeiro repasse, de acordo com a anotação, foi de R$ 15 milhões e não
está apontada qual a data em que foi efetuado. Á frente do valor está a
anotação: “A pedido Edinho PT”.
O segundo, de R$ 9 milhões, também não explicita a a data e está atrelado
ao “Diretório Nacional do PMDB”.
O terceiro pagamento, de R$ 2 milhões, aparece com a data de 29 de agosto
de 2014 e é acompanhado da seguinte frase: “Campanha Paulo Skaff, autorizado
por Temer, pagar para empresa JEMC, escritório de consultoria de Duda Mendonça,
publicitário do mesmo”. Sobre esse repasse, o diretor ainda juntou uma cópia da
nota fiscal do pagamento à empresa de Duda Mendonça.
O quarto pagamento, cuja data foi apagada e no valor de R$ 3 milhões,
está acompanhado na anotação do seguinte apontamento: “Temer pede para repassar
à Eduardo Cunha. Valor entregue em espécie no Rio de Janeiro”.
Por último, o repasse de R$ 1 milhão efetuado dois de setembro de 2014
está ao lado da anotação: “Temer pede para entregar ao Sr Yunes. O valor em
espécie Florisvaldo entregou em espécie”.
Outro que aparece nos documentos é João Baptista Lima Filho, amigo do
presidente Michel Temer. Coronel da Polícia Militar aposentado, ele é dono da
Argeplan Arquitetura e Engenharia, empresa que faz parte de um consórcio que
ganhou concorrência para executar serviços relacionados à usina de Angra 3 –
cujas obras são investigadas na Operação Lava Jato.
No material entregue à PGR, Ricardo Saud juntou documentos relacionados a
Argeplan, de Lima Filha. Em um desses documentos com os endereços da Argeplan,
Saud faz uma anotação a caneta na qual diz: “Endereço onde Florisvaldo entregou
dinheiro do MT”. Florisvaldo Oliveira é funcionário do grupo J&F e também
assinou acordo de colaboração.
O Estado procurou os citados e aguarda resposta com posição sobre fatos
abordados.
No dia 17, o presidente Michel Temer soltou a seguinte nota:
COM A PALAVRA, O PRESIDENTE MICHEL TEMER
O presidente Michel Temer jamais solicitou pagamentos para obter o silêncio
do ex-deputado Eduardo Cunha. Não participou e nem autorizou qualquer movimento
com o objetivo de evitar delação ou colaboração com a Justiça pelo
ex-parlamentar.
O encontro com o empresário Joesley Batista ocorreu no começo de março,
no Palácio do Jaburu, mas não houve no diálogo nada que comprometesse a conduta
do presidente da República.
O presidente defende ampla e profunda investigação para apurar todas as
denúncias veiculadas pela imprensa, com a responsabilização dos eventuais
envolvidos em quaisquer ilícitos que venham a ser comprovados.
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