No quarto
mandato de senador e alvo de seis inquéritos da Lava Jato, incluindo um que
apura suposta propina para beneficiar a Odebrecht quando era ministro de Minas
e Energia, Edison Lobão garante que será reeleito.
"Sou o mais
antigo, e não o mais velho, desta Casa: 32 anos de mandato. Não vou tentar a
reeleição. É evidente que vou me reeleger", diz o senador.
CAMILA MATTOSO
RANIER BRAGON
FOLHA DE S. PAULO/DE BRASÍLIA
Deputados e senadores alvos da Lava Jato dizem duvidar que sofrerão
processo de cassação e planejam continuar na vida pública.
A Folha procurou, ao longo da última semana, os 84 congressistas
investigados na operação com base em pedidos feitos pelo procurador-geral da
República, Rodrigo Janot, nas duas listas que encaminhou ao Supremo Tribunal
Federal –em março de 2015 e em março deste ano.
"Estou há dois anos e dois meses esperando meu processo ser
arquivado. O cara [o doleiro Alberto Youssef] diz que me deu [propina], eu já
provei que não deu. Fui 24 vezes na Procuradoria, estive oito vezes com Janot e
não consigo tirar meu nome desse negócio", reclama Luiz Carlos Heinze
(PP-RS).
"Nem que a vaca tussa, medo nenhum [de processo de cassação].
Primeiro, não cometi crime. Segundo, quem não deve não teme. Se o apelido do
Lula na Odebrecht era 'amigo' e o meu era 'inimigo', isso já é
autoexplicativo", diz Onyx Lorenzoni (DEM-RS), investigado porque aparece
na delação da Odebrecht como destinatário de R$ 175 mil de caixa dois em 2006.
Ex-presidente do Senado e tendo escapado de processos de cassação na
década passada em decorrência da acusação de que foi beneficiado com dinheiro
da empreiteira Mendes Júnior, Renan Calheiros (AL) também minimiza o risco de
enfrentar novamente o Conselho de Ética.
"Eu estou sendo investigado pela interpretação, pelo 'ouvi dizer'.
Há evidente falta de provas", afirmou o alvo de 17 inquéritos na Lava
Jato.
Alguns parlamentares reagiram em tom ríspido: "É descabida [a
pergunta], estamos em um fase de inquérito, que sequer se transformou em
denúncia. Essa pergunta não tem fundamento nenhum", disse o senador
Eduardo Braga (PMDB-AM).
Ao todo, 54 deputados e senadores disseram não acreditar que serão alvos
de processo de cassação. Outros 30 não quiseram se manifestar.
A Folha não ouviu políticos que figuraram nas listas de Janot, mas cujos
casos foram arquivados ou estão ainda em análise, além de outros que passaram a
ser investigados entre os dois pedidos de Janot. Para haver processo de
cassação é preciso haver representação apresentada por partido ou pela Mesa
Diretora. A análise é feita pelo Conselho de Ética e segue para o plenário, que
dá a palavra final.
Apenas três dos que responderam disseram que não irão mais concorrer a
mandatos eletivos –mas nenhum citou problemas na Justiça ou a Lava Jato como
explicação.
"Estou no sétimo mandato, um de prefeito, tenho 75 anos, e já avisei
aos meus eleitores em 2014 que não iria me candidatar mais", disse Nelson
Meurer (PP-PR). "Não tem motivo. O fato é que com seis mandatos já cumpri
minha missão", afirma Dilceu Sperafico (PP-PR), 69. "Oito mandatos!
Não está bom, não? É a minha aposentadoria", disse, aos risos, Roberto
Balestra (PP-GO), 72.
Dos que responderam as perguntas da Folha, 50 dizem que pretendem se
manter na vida pública, a maioria disputando a reeleição.
Entre eles, Edison Lobão (PMDB-MA), 80, no quarto mandato no Senado. O
peemedebista é alvo de seis inquéritos da Lava Jato, incluindo um que apura
suposta propina para beneficiar a Odebrecht quando era ministro de Minas e
Energia, o que ele nega. "Sou o mais antigo, e não o mais velho, desta
Casa: 32 anos de mandato. Não vou tentar a reeleição"¦ É evidente que vou
me reeleger."
Excessos
Boa parte dos deputados e senadores que responderam as perguntas da
reportagem disse ver excessos ou erros no trabalho da Procuradoria-Geral da
República e do juiz federal Sergio Moro.
Responsável pelos julgamentos da Lava Jato no Paraná, o magistrado não
trata, porém, dos casos relativos aos congressistas, que têm foro privilegiado
no STF.
A Procuradoria é a responsável por analisar as delações, pedir a abertura
de investigação ou o arquivamento do caso de deputados e senadores. Em uma
etapa posterior, ela oferece denúncia contra o investigado ou solicita o
arquivamento.
Dos procurados pela Folha, 24 criticam a atuação do órgão chefiado por
Rodrigo Janot, e 24 que dizem não ver excessos. Trinta e seis não quiseram se
manifestar.
No caso de Moro, houve um número maior de congressistas que preferiu não
responder a pergunta –46. Dos que responderam, 21 afirmam que há abuso na
condução do magistrado, principalmente no tempo de prisão de alguns dos alvos
da operação –para 17, atuação do juiz é correta.
Algumas das principais críticas ao juiz e ao Ministério Público partem do
PT.
"Ele já virou estrela. Convoca a torcida para ir ou para não ir [ao
depoimento de Lula]. Tem posição política direcionada. Começou com o PT, aí não
conseguiu frear e agora é contra todos os políticos, contra a política e,
consequentemente, contra a democracia. Não tem nada a ver com combate a corrupção.
Virou instrumento de disputa de poder", diz o senador petista Paulo Rocha
(PA).
Há reclamações fora do PT: "A própria rapidez com que o Ministério
Público denuncia as pessoas faz com que elas sejam punidas antes de serem
condenadas. Acho isso uma ditadura", disse Lazaro Botelho (PP-TO).
Entre os que dizem ver atuação correta do Ministério Público e de Moro
está Romero Jucá (PMDB-RR), líder do governo de Michel Temer no Senado. Em
conversa gravada em março de 2016, Jucá sugeriu ao ex-presidente da Transpetro
Sérgio Machado que uma "mudança" no governo federal resultaria em um
pacto para "estancar a sangria" representada pela Lava Jato.
"Não se julga a história enquanto ela está acontecendo. A Lava Jato
mudou a política no Brasil. É um paradigma que fez a política caminhar para
algo melhor."
Eu não duvido nada, o povo tem memória curta e a maioria só pensam em si mesmo
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