Bimotor
interceptado pela FAB decolou da Fazenda Itamarati Norte, em Campo Novo do
Parecis (MT), propriedade do grupo Amaggi, do ministro da Agricultura
Por CartaCapital
A Força Aérea Brasileira (FAB)
interceptou no domingo 25 um avião bimotor, na região de Aragarças (GO), em uma
ação que culminou na apreensão de 653 quilos cocaína. De acordo com a FAB, o
avião, de matrícula PT-IIJ, decolou da Fazenda Itamarati Norte, no município de
Campo Novo do Parecis (MT) com destino a Santo Antonio Leverger (MT). A Fazenda
Itamarati Norte pertence ao senador licenciado e ministro da Agricultura,
Blairo Maggi (PP).
A assessoria de imprensa do grupo
Amaggi, que pertence ao ministro e a seus familiares, confirmou por telefone a
CartaCapital que uma fazenda com "o mesmo nome" do divulgado pela FAB
pertence ao grupo, e disse que preparava nota oficial.
Em nota oficial, a Amaggi negou ter
qualquer relação com a aeronave e afirmou que não emitiu autorização de pouso
ou decolagem para a mesma. Além disso, argumentou que a região de Campo Novo
dos Parecis é "vulnerável à ação de grupos do tráfico internacional de
drogas, dada a sua proximidade com a fronteira do estado de Mato Grosso com a
Bolívia" e que já auxiliou a Polícia Federal em uma ação similar em outra
fazenda da região.
No site da Secretaria de Meio Ambiente de Mato
Grosso há um processo de licenciamento de um aeródromo na Fazenda Itamarati
Norte, em Campo Novo do Parecis, que tem como proprietário o grupo Amaggi.
A assessoria de imprensa do Ministério
da Agricultura encaminhou a solicitação de informações de CartaCapital a um
assessor pessoal de Maggi, que repassou o contato à assessoria do grupo Amaggi.
Segundo reportagem da revista Globo
Rural, a fazenda Itamarati Norte foi adquirida em junho de 2010 pelo grupo
Amaggi. A propriedade foi arrendada por oito anos do empresário Olacyr de
Moraes, conhecido como "Rei da Soja".
Consulta pela matrícula do bimotor no
sistema do Registro Aéreo Brasileiro (RAB) da Agência Nacional de Aviação Civil
(Anac) mostra que a aeronave pertence a Jeison Moreira Souza.
A interceptação da aeronave ocorreu
durante a Operação Ostium, dedicada a coibir ilícitos transfronteiriços, na
qual atuam em conjunto a FAB, a Polícia Federal e órgãos de segurança pública.
A interceptação, feita por uma aeronave
A-29 Super Tucano, teve inicio às 13h17 de domingo. Segundo a FAB, o piloto
seguiu os protocolos das medidas de policiamento do espaço aéreo e interrogou o
piloto do bimotor. Na sequência, determinou a mudança de rota e o pouso
obrigatório no aeródromo de Aragarças (GO).
Inicialmente, afirma a FAB, a aeronave
interceptada seguiu as instruções da defesa aérea, mas ao invés de pousar no
aeródromo indicado, arremeteu. O piloto da FAB, diz a Aeronáutica, novamente
comandou a mudança de rota e solicitou o pouso, porém o avião não respondeu.
A partir desse momento, afirma a FAB, o
bimotor foi classificado como hostil. O A-29 executou um tiro de aviso, para forçar
o piloto da aeronave interceptada a cumprir as determinações da defesa aérea, e
voltou a determinar o pouso obrigatório. O avião interceptado novamente não
respondeu e pousou na zona rural do município de Jussara (GO).
De acordo com a Polícia Militar de
Goiás, os ocupantes da aeronave fugiram após um pouso na área rural do
município. Um helicóptero da PM-GO foi acionado e realizou buscas no local.
Inicialmente, a FAB apontou que a carga apreendida era de 500 quilos de
cocaína, mas a PM atualizou o número, elevando para 653 quilos. Ainda segundo a
PM-GO, a carga está avaliada em 13 milhões de reais.
Segundo a FAB, o avião seria removido
para o quartel da Polícia Militar de Goiás em Jussara. A droga apreendida será
encaminhada para a Polícia Federal em Goiânia.
O
que disse a Amaggi
A
respeito das informações divulgadas pela Força Aérea Brasileira (FAB) no último
domingo 25 dando conta da interceptação de uma aeronave carregada de
entorpecentes que teria decolado de uma pista localizada na fazenda Itamarati,
arrendada pela AMAGGI, a companhia vem a público informar que:
a)
Tomou conhecimento do caso por meio da imprensa e aguarda o desenrolar das
investigações sobre a propriedade da aeronave e as circunstâncias exatas em que
ela - conforme afirma a FAB - teria pousado na Fazenda Itamarati e decolado a
partir de uma de suas pistas;
b)
A empresa não tem qualquer ligação com a aeronave descrita pela FAB e não
emitiu autorização para pouso/decolagem da mesma em qualquer uma de suas
pistas;
c)
Localizada em Campo Novo do Parecis, a parte arrendada pela AMAGGI na Fazenda
Itamarati conta com 11 pistas autorizadas para pouso eventual (apropriadas para
a operação de aviões agrícolas, o que não demanda vigilância permanente)
localizadas em pontos esparsos de 54,3 mil hectares de extensão;
d)
A região de Campo Novo do Parecis tem sido vulnerável à ação de grupos do
tráfico internacional de drogas, dada a sua proximidade com a fronteira do
Estado de Mato Grosso com a Bolívia;
e)
Tal vulnerabilidade acomete também as fazendas localizadas na região. Em abril
deste ano a AMAGGI chegou a prestar apoio a uma operação da Polícia Federal
(PF), quando a mesma foi informada de que uma aeronave clandestina pousaria com
cerca de 400 kg de entorpecentes (conforme noticiado à época) em uma das pistas
auxiliares da fazenda. Na ocasião, a PF realizou ação de interceptação com
total apoio da AMAGGI, a qual resultou bem-sucedida.
A
AMAGGI se coloca à disposição das autoridades para prestar todo apoio possível
às investigações do caso.
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