'O
mundo é um lugar horrível para ser mulher', disse escritora no Facebook
A
empresa Uber, por sua vez, informou que baniu o motorista denuciado pela
escritora.
Por O Globo
RIO — A escritora gaúcha Clara Averbuck
fez um post no Facebook, nesta segunda-feira, relatando que foi estuprada por
um motorista do aplicativo Uber. Na publicação, a autora conhecida por seus
textos feministas contou, em detalhes, como tudo aconteceu. Clara disse ainda
que, após o ocorrido, está em casa e medicada. A empresa Uber, por sua vez,
informou que baniu o motorista denuciado pela escritora.
"O nojento do motorista do Uber
aproveitou meu estado, minha saia, minha calcinha pequena e enfiou um dedo
imundo em mim, ainda pagando de que estava ajudando "a bêbada". Estou
machucada mas estou em casa e medicada pra me acalmar. Estou decidindo se quero
me submeter à violência que é ir numa delegacia da mulher ser questionada, já
que a violência sexual é o único crime que a vítima é que tem que provar",
diz trecho do post.
Ainda na postagem, a autora de 38 anos
conta que ficou com um olho roxo e que "a culpa de ter bebido e me
colocado em posição vulnerável". Mas deixa claro que a culpa não é dela. E
faz um alerta às mulheres.
"Estou com o olho roxo e a culpa de
ter bebido e me colocado em posição vulnerável não me larga. A culpa não é
minha. Eu sei. A dor, a raiva e a impotência também não me largam. Estou
falando tudo isso para que todas as que me lêem saibam que pode acontecer com
qualquer uma, a qualquer momento, e que o desamparo e o desespero são
inevitáveis. O mundo é um lugar horrível pra ser mulher", escreveu.
Clara não revelou, em seu post,
exatamente quando e onde aconteceu o crime denunciado. Em nota, a Uber repudiou
o ocorrido e informou que o motorista foi identificado e banido da empresa.
"A Uber repudia qualquer tipo de
violência contra mulheres. O motorista parceiro foi banido e estamos à
disposição das autoridades competentes para colaborar com as investigações.
Acreditamos na importância de combater, coibir e denunciar casos de assédio e
violência contra a mulher", diz nota.
Na publicação feita por Clara, diversos
internautas deixaram mensagens de apoio à escritora. "Todo amor &
solidariedade a Clara Averbuck, que foi estuprada no Uber. Repúdio &
horror: ela foi estuprada por que é mulher. E quer andar sozinha de noite e tem
direito a isso", escreveu uma internauta. "Todo meu carinho e toda
minha solidariedade a você. Sua dor é a dor de todas as mulheres. E todo meu
repúdio ao motorista estuprador! Que ele pague pelo que fez. Fique firme!
Cerque-se de pessoas que possam lhe confortar", escreveu outra.
Em seu Twitter, a autora agradeceu as
mensagens de apoio que tem recebido e disse não se importar com os que insistem
em culpar a vítima.
"Obrigada pelas mensagens de apoio
e uma vassoura no cy de quem está tirando onda. caguei pra vocês, mores, ceis
nunca me afetaram", escreveu.
A escritora também informou que foi
procurada pela Uber Brasil e que a empresa está sendo "super
solícita".
Escritora já havia relatado outro caso
de estupro em rede social.
Em maio deste ano, a escritora escreveu
um depoimento em sua página no Facebook em que relatou ter sido vítima de
estupro aos 13 anos.
“Quando eu fui estuprada por três
homens, há 24 anos, aos 13 anos, não tinha funk, eu não morava na favela, eu
não estava de shortinho. Foi numa festa de alunos de uma escola particular. Se
a culpa dos estupros fosse do funk ou da "cultura da favela", como li
por aí em vários comentários de portal, também não aconteceriam estupros na
Faculdade de Medicina, formadora de Futuros Nobres Médicos. A cultura sempre
foi violenta com as mulheres. Tem violência pra todos os gostos, de Beatles a
Guns and Roses (apenas escutem "Run for your life" ou "I used to
love her"). Então, se for pra apontar o dedo, meçam bem se não estão
apenas aproveitando pra jogar o preconceito pra onde convém. O problema é
enorme, é estrutural, é cultural, independe de classe social ou poder
aquisitivo e está em TODOS os lugares”, escreveu ela.
Clara é uma escritora feminista, que
começou sua trajetória literária com textos na internet. É autora de diversos
livros, como “Máquina de pinball (2002)”, que virou peça de teatro. Sua obra
também serviu de inspiração para o filme “Nome próprio” (2007), de Murilo
Salles, protagonizado por Leandra Leal. Clara também é blogueira da Revista
Fórum.
Nenhum comentário:
Postar um comentário