Mais
de 30 ônibus foram incendiados em cidades de Minas; os primeiros ataques em
mais de um Estado da história da facção acabaram definidos por líderes locais
Os ataques contra ônibus em Minas e no
Rio Grande do Norte, além da execução de um policial militar em Parnamirim
(RN), foram ordenados pelo Primeiro Comando da Capital (PCC). Os atentados
simultâneos - os primeiros da história da facção - acabaram determinados na
semana passada e deveriam envolver ainda outros dois Estados, cujas forças de
segurança estão de prontidão.
Mais nove ônibus foram queimados entre a
noite desta segunda-feira,4, e a madrugada desta terça-feira, 5, no Sul de
Minas e no Triângulo. Uma viatura da Secretaria de Administração Prisional
(Seap) também foi queimada. É o segundo dia consecutivo de ataques a veículos
no estado. Por enquanto, não há registro de feridos.
Entre domingo, 3, e segunda-feira, 4,
mais de 24 ônibus foram incendiados em 17 cidades mineiras. Um ônibus foi
queimado em Natal e um PM acabou assassinado. Os ataques simultâneos em mais de
um Estado foram decididos pelo “resumo dos Estados”, os bandidos responsáveis
pela facção em cada unidade da Federação, depois de consulta feita à Sintonia
dos Estados, setor do PCC que cuida da organização fora de São Paulo.
“O plano inicial era fazer uma
manifestação pacífica em Natal contra o que os bandidos chamam de opressão no
complexo prisional de Alcaçuz (em Nísia Floresta, na Grande Natal)”, afirmou um
dos responsáveis pelas investigações contra o PCC. Mas a direção do “partido”
no Estado decidiu que a manifestação não teria o efeito desejado e decidiu
atacar. A mesmo decisão se estendeu a Minas e a dois outros Estados que teriam
problemas em cadeias.
“Os bandidos diziam que era para ir para
cima de policiais e agentes prisionais e pôr fogo em ônibus. As forças de
segurança desses Estados foram avisadas e estão de prontidão”, informou o
investigador. Em Minas, a facção tem 1.432 filiados e no Rio Grande do Norte há
798 bandidos ligados ao grupo.
Detectado em São Paulo, onde a facção
não pretende atacar, conforme as informações interceptadas, o plano foi
confirmado pelas forças de segurança dos Estados. Primeiramente, os bandidos
agiram em Natal, no sábado, quando assassinaram o PM Kelves Freitas de Brito.
Em outro caso, policiais mataram dois suspeitos que tentaram fugir. Na capital
do Estado, os criminosos incendiaram um ônibus, o que fez as empresas do setor
recolherem a frota.
Nesta segunda-feira, 4, foi a vez de
Minas, onde os bandidos começaram os ataques durante a madrugada. Entre as
cidades atingidas está Passos, onde a Câmara Municipal foi atacada. Ali os
bandidos atiraram na direção de um quartel da PM e, por fim, incendiaram ônibus
em outras cidades do sul de Minas - houve ataques em Alfenas, Varginha, Guaxupé
e Pouso Alegre.
Em Uberaba e Uberlândia, no Triângulo
Mineiro, também foram registrados atentados, bem como na capital Belo
Horizonte. Em muitos casos, os criminosos agiram de forma parecida ao que
aconteceu em Pouso Alegre na noite do domingo. Eles pararam o ônibus, pediram
para todos descerem e atearam fogo ao veículo. “Eles prometem R$ 15 a cada
moleque que participa da queima de ônibus. A ordem é mandar descer todo mundo e
queimar o veículo”, afirmou um delegado da área da inteligência.
Há ocorrências, no entanto, que diferem
um pouco desse padrão. Em Monte Santo de Minas, por exemplo, entraram na
garagem da prefeitura com garrafas de álcool e incendiaram dois ônibus
escolares.
Detidos
Segundo a PM mineira, em todo o Estado
30 pessoas foram detidas e levadas à delegacia, sendo oito autuadas em
flagrante. Um adolescente também foi apreendido. Segundo a PM, áudios obtidos
pela corporação mostram a responsabilidade da facção nos ataques.
Oficialmente, a polícia trata com
cautela as informações. “Parece-nos que houve, em parte, a orquestração de
facção criminosa, mas não podemos determinar isso. A investigação é que vai
ditar se esses áudios correspondem aos ataques que foram efetivados”, informou
o major Flávio Santiago, porta-voz da PM mineira. Ele afirma que as ocorrências
“podem sim ter relação com demandas vindas de dentro dos presídios”.
Segundo o oficial, tudo será apurado
pelo setor de inteligência da Segurança Pública. O major também afirmou que
ataques semelhantes foram registrados em outros Estados.
Para
lembrar - Facção cresce fora de São Paulo
O total de membros do PCC no País já
ultrapassa a casa dos 30 mil. Entre 2014 e este ano, o número de integrantes
mapeados pelo censo da organização fora do Estado de São Paulo foi multiplicado
por seis e chegou a 20,5 mil, como mostrou o Estado anteontem. Paraná e Ceará
concentraram o maior número de bandidos inscritos na facção – os chamados
batizados.
Documentos obtidos pelos investigadores
mostram a consolidação do PCC no tráfico internacional. A organização tem
integrantes também na Colômbia, no Paraguai, na Bolívia, no Peru e na Guiana.
Os negócios particulares dos líderes e da própria facção têm faturamento
estimado pela inteligência policial paulista em, no mínimo, R$ 400 milhões por
ano. /COLABOROU PAULO ROBERTO NETTO
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