"O
feto foi expulso pelo trauma. Quando eu cheguei, o bebê estava entrelaçado nos
restos mortais. Eu retirei aquela criança, fiz os procedimentos cabíveis e
levei para a ambulância”, conta o médico.
Uma menina nasceu durante um trágico
acidente de trânsito na Rodovia Régis Bittencourt, no interior de São Paulo.
Uma jovem, que estava grávida, foi arremessada para fora de um caminhão e
morreu após ter o abdômen rompido, o que obrigou a bebê a nascer
involuntariamente. Segundo médicos ouvidos pelo G1, o corpo da mãe acolheu a
bebê nos primeiros minutos de vida, o que foi fundamental para que a menina
conseguisse sobreviver.
O acidente ocorreu por volta das 12h30 de
quinta-feira (26). O médico Elton Barbosa foi chamado para socorrer duas
vítimas de um acidente no Km 517, na Serra do Azeite, em Cajati. Ele faz parte
da equipe de atendimento pré-hospitalar da Rodovia Regis Bittencourt, que
imediatamente foi para o local da ocorrência identificar o que realmente havia
acontecido.
De acordo com a concessionária
responsável pela rodovia, uma carreta que transportava tábuas de madeira saiu
da pista e tombou. O motorista ficou preso nas ferragens do veículo e a
passageira, uma gestante de cerca de 39 semanas, foi arremessada para fora do
caminhão. A carga de madeira caiu na rodovia e atingiu a mulher.
“O motorista já estava sendo retirado
das ferragens do caminhão por outra equipe. A mulher estava embaixo de pranchas
de madeira. Eu estava tentando chegar até a vítima para atestar o óbito quando
ouvi um choro abafado de uma criança. Tiramos as pranchas de madeira e vimos a
gestante. A criança estava entrelaçada nas vísceras da mãe”, conta o médico.
De acordo com Fernando, com o
capotamento, a jovem caiu na rodovia e várias tábuas de madeira caíram em cima
dela. A hipótese, segundo o médico, é que as pranchas tenham rompido o abdômen
da mãe. "O feto foi expulso pelo trauma. Quando eu cheguei, o bebê estava
entrelaçado nos restos mortais. Eu retirei aquela criança, fiz os procedimentos
cabíveis e levei para a ambulância”, conta Barbosa.
A bebê foi encaminhada para a UTI
Neonatal do Hospital Regional de Pariquera-Açu, cidade vizinha a Cajati. Até a
publicação desta reportagem, nenhum familiar apareceu no hospital para
identificar e registrar o recém-nascida.
Enquanto a bebê estiver internada, a
Polícia Civil irá tenta localizar os documentos dos pais. Caso nenhum familiar
apareça, o Serviço Social do hospital aciona o Conselho Tutelar para levar a
criança para um abrigo até que a Justiça determine o destino da criança.
Ainda segundo o hospital, a bebê não
teve ferimentos, mas, por conta do trauma, necessita de cuidados médicos,
apesar de passar bem. O médico que realizou o resgate ainda não acredita como a
bebê conseguiu se manter viva até a chegada da equipe.
“Vou ser sincero. Foi Deus. Pela
cinemática, pelo que eu vi, não sei como saiu viva. Quem manteve viva foi o
próprio corpo da mãe. É raro isso acontecer. O abdômen da mãe foi exposto. A
mãe estava sob várias pranchas de MDF. Eu não sei como essa criança saiu viva”,
explica o médico.
A mãe da menina teve esmagamento de
crânio e perdeu vários membros. O corpo foi encaminhado para o Instituto Médico
Legal (IML) de Registro. Porém, a mulher estava sem os documentos pessoais e
ainda não foi identificada.
Jonathas Ferreira, o motorista da
carreta, foi encaminhado ao Hospital Regional de Pariquera-Açu. O G1 não
conseguiu entrar em contato com ele. Porém, segundo informações obtidas pela
reportagem, ele não é o pai da criança e apenas deu uma carona para a gestante.
O momento de dor e esperança ficará
marcado na memória do médico. “Foi emocionante. Infelizmente tivemos o óbito da
mãe, torcemos para que isso não ocorra. Mas, diante da tragédia, conseguimos
fazer o procedimento e salvar a bebê. Foi gratificante. Essa ocorrência
literalmente marcou a minha vida. Acho que na história da rodovia nunca ocorreu
um acidente nessa proporção. Perdemos uma vida, mas fomos responsáveis por dar
a vida a uma menina”, finaliza.
Fonte: G1
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