Em
entrevista ao 'Jornal Nacional', da 'TV Globo', na segunda-feira, Bolsonaro
ameaçou retirar verbas públicas dos veículos de imprensa que se comportarem de
maneira "indigna"
Luiz Raatz, O Estado de S.Paulo
A Associação Nacional de Jornais (ANJ) e
a Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo (Abraji) criticaram nesta
terça-feira, 30, as declarações dadas pelo presidente eleito, Jair Bolsonaro,
do PSL, sobre o jornal Folha de S. Paulo.
Em entrevista ao Jornal Nacional, da TV
Globo, na segunda-feira, Bolsonaro ameaçou retirar verbas públicas dos veículos
de imprensa que se comportarem de maneira "indigna", e citou a Folha
como um desses casos. A Federação Nacional dos Jornalistas (Fenaj) também
criticou o presidente.
“É preocupante que o presidente eleito
tenha manifestado a intenção de usar verbas publicitárias oficiais como forma
de punição a um jornal por discordar de seu noticiário", disse o
presidente da ANJ, Marcelo Rech. "Os investimentos do governo em
publicidade, como qualquer outra verba pública, devem seguir sempre critérios
técnicos, e não políticos ou partidários”.
A Abraji disse receber com apreensão as
declarações dadas por Bolsonaro a respeito da imprensa nos últimos dois dias.
"O respeito à Constituição - à qual o presidente fará um juramento solene
de obediência no dia 1º de janeiro de 2019 - não é pleno quando a imprensa se converte
em objeto de ataques e de ameaças", afirmou a entidade em nota. "Fiscalizar o poder público - e em
particular as ações do presidente da República - sempre foi e seguirá sendo uma
função inerente ao jornalismo, exercida em nome do interesse público. Zelar por
essa função é missão primordial da Abraji, assim como deve ser objeto de zelo
de todo governo democrático."
Ao JN, Bolsonaro prometeu respeitar a
liberdade de imprensa, mas disse que o repasse de verbas de anúncios da União é
uma coisa diferente. "Sou totalmente favorável à liberdade de imprensa,
mas temos a questão da propaganda oficial de governo, que é outra coisa”,
disse. “Não quero que (a Folha) acabe. Mas, no que depender de mim, imprensa
que se comportar dessa maneira indigna não terá recursos do governo federal.
Por si só esse jornal se acabou."
No Twitter, o jornal Folha de S. Paulo
respondeu ao presidente eleito. "Jair Bolsonaro, mesmo após eleito
presidente, não deixa de ameaçar a Folha. Ainda não entendeu o papel da
imprensa nem a Constituição que promete obedecer", disse a Folha.
O presidente eleito contestou
reportagens da Folha, publicadas em janeiro e em agosto, que mostrou que uma
assessora parlamentar, identificada como Walderice dos Santos da Conceição,
vendia açaí e prestava serviços particulares ao deputado em Angra dos Reis, no
Rio, onde ele tem casa de praia.
Em agosto, o Ministério Público abriu os
primeiros procedimentos para analisar se oferece denúncia contra Bolsonaro. A
notícia de fato, como é chamada, partiu de uma denúncia anônima. O procurador
responsável pelo caso é João Gabriel Morais de Queiroz.
Críticas
da Fenaj
A Fenaj também criticou ameaças da
campanha de Bolsonaro contra jornalistas. "A Federação Nacional dos
Jornalistas – FENAJ, representante máxima da categoria no Brasil, expressa sua
preocupação com o futuro da nação brasileira, após a eleição da chapa formada
pelo capitão reformado Jair Bolsonaro e pelo general Mourão, também reformado,
para governar o país a partir de 1º de janeiro de 2019", diz a entidade em
nota.
Ouça a íntegra da entrevista
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