Presidente
usa texto de site que atribuiu falsamente frase a repórter do ‘Estado’ para
criticar cobertura sobre o filho e senador Flávio Bolsonaro
O presidente Jair Bolsonaro atacou a
imprensa valendo-se de informações falsas divulgadas ontem por um site que
reúne colunistas conservadores e favoráveis ao governo.
No Twitter, Bolsonaro endossou tese
levantada pelo site Terça Livre, que falsamente atribuiu a uma jornalista do
Estado a declaração de que teria “intenção” de “arruinar Flávio Bolsonaro e o
governo”.
A suposta declaração, que aparece entre
aspas no título do texto do Terça Livre, foi atribuída pelo site à repórter
Constança Rezende. A frase teria sido dita, segundo “denúncia” de um jornalista
francês citado pelo Terça Livre, em uma conversa gravada em que a repórter fala
da cobertura jornalística das movimentações suspeitas de Fabrício Queiroz,
ex-motorista do senador Flávio Bolsonaro (PSL-RJ).
A gravação do diálogo, porém, mostra que
Constança em nenhum momento fala em “intenção” de arruinar o governo ou o
presidente. A conversa, em inglês, tem frases truncadas e com pausas. Só
trechos selecionados foram divulgados. Em um deles, a repórter avalia que “o
caso pode comprometer” e “está arruinando Bolsonaro”, mas não relaciona seu
trabalho a nenhuma intenção nesse sentido.
Allan Santos, editor do Terça Livre, no
entanto, expôs a conversa como evidência de suposta irregularidade. “Bomba!!!!!
Jornalista do Estadão confessa: “a intenção é arruinar Flávio Bolsonaro e o
governo”. A frase jamais foi dita.
Estimulados pelas informações, grupos
governistas promoveram no Twitter uma série de postagens nas quais acusaram o
Estado de “mentir” na cobertura do caso Flávio Bolsonaro. Às 20h51min, o
próprio presidente publicou o seguinte texto no Twitter: “Constança Rezende, do
‘O Estado de SP’ diz querer arruinar a vida de Flávio Bolsonaro e buscar o
Impeachment do Presidente Jair Bolsonaro. Ela é filha de Chico Otavio,
profissional do O Globo. Querem derrubar o Governo, com chantagens,
desinformações e vazamentos.”
A postagem de Bolsonaro foi ilustrada
com um vídeo do Terça Livre, que expôs a foto de Constança Rezende e o áudio de
um trecho da conversa gravada. A gravação foi divulgada primeiro por um site
francês, em um texto de Jawad Rhalib, que se apresenta como jornalista. Rhalib
também expõe a tese de que a gravação seria prova de que a imprensa distorce
fatos para comprometer Bolsonaro.
Constança não deu entrevista ao
jornalista francês nem dialogou com ele. Suas frases foram retiradas de uma
conversa que ela teve em 23 de janeiro com uma pessoa que se apresentou como
Alex MacAllister, suposto estudante interessado em fazer um estudo comparativo
entre Donald Trump e Jair Bolsonaro.
O Terça Livre, com base na “denúncia” de
Jawad Rhalib, também falsamente atribuiu à repórter a publicação da primeira
reportagem sobre as investigações do Conselho de Controle de Atividades
Financeiras (Coaf) a respeito da movimentação de R$ 1,2 milhão nas contas de
Queiroz. O autor da primeira reportagem foi Fabio Serapião, também do Estado.
“Desde que Constança iniciou a temporada
de caça aos Bolsonaro no Estadão, emissoras como a Rede Globo e jornais como
Folha de São Paulo seguiram o mesmo caminho”, diz o texto do site. “Uma
enxurrada de acusações em horário nobre, capas de revistas e nas primeiras
páginas de jornais colocaram a integridade moral do filho do presidente em
xeque.”
As informações publicadas pelo jornal se
baseiam em fatos e documentos oficiais. O Ministério Público apura se Fabrício
Queiroz recebeu indevidamente depósitos de funcionários da Assembleia
Legislativa do Rio (Alerj).
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