Ao contrário do que havia dito na CCJ,
comentário de Moro sobre Laura Tessler repercutiu na exclusão da procuradora
O jornalista Reinaldo Azevedo, em novas
divulgações de conversas entre procuradores do MPF e o ex-juiz federal Sérgio
Moro, leu trechos e apresentou informações que demonstram que a sugestão de
Moro de “treinar” a procuradora Laura Tessler gerou consequências: o MPF exclui
Tessler da segunda audiência de Lula, contrariando declaração dada na CCJ nesta
quarta-feira (19).
Na CCJ, em resposta ao senador Nelson Trad
(PTB-MS), Moro disse que “o que consta no texto específico [sobre a procuradora
Laura Tessler] é que determinado Procurador da República não tinha um bom
desempenho, sem consequências, tanto que hoje ela continua represetando”.
No entanto, com as novas revelações, essa
informação cai em falsidade.
Deltan: “Não comenta por ninguém e me
assegura que outras pessoas não estou vendo por aí o que falo”
Carlos Fernando: “Só para mim, depois
apagamos o conteúdo”
Deltan retransmitiu, então, a seguinte
mensagem de Moro:
Moro – 12:32:39. – Prezado, a colega Laura
Tessler de vcs é excelente profissional, mas para inquirição em audiência, ela
não vai muito bem. Desculpe dizer isso, mas com discrição, tente dar uns
conselhos a ela, para o próprio bem dela. Um treinamento faria bem. Favor
manter reservada essa mensagem.
Após a mensagem, o MPF decidiu modificar a
equipe escalada para a representação na audiência contra Lula e excluiu Laura
Tessler.
Confira os novos diálogos revelados nesta quinta-feira por Reinaldo Azevedo.
Confira os novos diálogos revelados nesta quinta-feira por Reinaldo Azevedo.
Dezessete minutos depois de receber a
mensagem do então juiz, Dallagnol passa a seguinte mensagem a seu colega Carlos
Fernando:
12:42:34 Deltan
Recebeu a msg do moro sobre a audiência tb?
13:09:44 Não. O que ele
disse?
13:11:42 Deltan
Não comenta com ninguém e me assegura que teu telegram não tá aberto aí no computador
e que outras pessoas não estão vendo por aí, que falo
13:12:28 Deltan (Vc vai entender por que
estou pedindo isso)
13:13:31 Ele está só para mim.
13:14:06 Depois, apagamos o conteúdo.
13:16:35 Deltan Prezado, a colega Laura
Tessler de vcs é excelente profissional, mas para inquirição em audiência, ela não vai muito bem. Desculpe
dizer isso, mas com discrição, tente dar uns conselhos a ela, para o próprio bem dela. Um treinamento
faria bem. Favor manter reservada essa mensagem.
13:17:03 Vou apagar, ok?
13:17:07 Deltan apaga sim
13:17:26 Apagado.
13:17:26 Deltan Vamos ver como está a
escala e talvez sugerir que vão 2, e fazer uma reunião sobre estratégia de inquirição, sem mencionar
ela.
13:18:11 Por isso tinha sugerido que Júlio
ou Robinho fossem também. No do Lula não podemos deixar acontecer.
13:18:32 Apaguei.
Como se nota acima, Dallagnol repassa a
mensagem de Moro para Carlos Fernando. Mais do que isso: ele demonstra a disposição de mexer na escala
dos procuradores para enviar para a audiência com Lula pessoas que estejam ao gosto do juiz. Ora,
Moro não sugeriu ou ordenou a troca explicitamente. Mas a interferência é evidente, e a sugestão
estava dada.
Dois meses depois, no dia 10 de maio de
2017, o ex-presidente Lula depunha, então, pela primeira vez em Curitiba. Do outro lado da mesa, Sérgio
Moro — aquele que, na prática, coordenava a Lava Jato.
Não! Laura Tessler não estava presente.
Representaram o Ministério Público Federal justamente "Júlio" e "Robinho — respectivamente, Júlio
Noronha e Roberson Pozzobon.
ABSURDO
A fala de Sérgio Moro reúne um conjunto de
absurdos. Note-se que, ao mesmo tempo em que põe em dúvida a veracidade dos diálogos, diz não
haver neles nada de mais. Há, sim! Fraudam o Código de Ética da Magistratura e o Inciso IV do Artigo
254 do Código de Processo Penal.
Trata-se de um dos momentos em que o juiz
interfere no andamento da Lava Jato e na rotina interna do próprio Ministério Público Federal. E,
como se nota, os procuradores atuam segundo o seu gosto.
A propósito: Moro deu algum conselho a
Cristiano Zanin, advogado do ex-presidente nesse caso? Os vídeos disponíveis apontam o contrário:
mais de uma vez, o juiz comportou-se com impressionante rispidez, como se a defesa estivesse
presente à audiência para atrapalhar o seu bom andamento.
Laura Tessler não foi expulsa da Lava
Jato. Mas não participou da audiência com Lula. Afinal, como escreveu Carlos Fernando, "no do
Lula, não podemos deixar acontecer".
CONSCIÊNCIA DA ILEGALIDADE
Notem os cuidados de Dallagnol e Carlos
Fernando. Eles sabem que o trio está numa operação que frauda as regras do jogo, que contraria a lei. O
interlocutor de Dallagnol fala duas vezes em apagar a mensagem.
Parece que Carlos Fernando apagou, mas
Dallagnol não.
OUTRO LADO
A reportagem do programa "O É da
Coisa" acionou a Lava Jato, o procurador Carlos Fernando e o ministro Sergio Moro para saber se eles queriam se
manifestar a respeito.
O Ministério da Justiça respondeu com a
seguinte nota: Sobre suposta mensagem atribuída ao
Ministro da Justiça e Segurança Pública esclarece-se que não se reconhece a autenticidade, pois pode ter
sido editada ou adulterada pelo grupo criminoso, que mesmo se autêntica nada tem de ilícita ou
antiética. A suposta mensagem já havia sido divulgada semana passada, nada havendo de novo.
Até a hora em que o programa foi ao ar e
em que este post foi publicado, não houve resposta dos demais consultados. Tanto o programa de rádio
como este blog publicarão as respectivas respostas das pessoas acionadas caso se disponham a
tanto.
Com informações do Blog do Reinaldo Azevedo
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