Integrantes do Ministério Público Federal
que integram a “Lava Jato” fizeram pouco do luto do ex-presidente Lula diante
da morte da ex-primeira-dama Marisa Letícia, de seu irmão Vavá e do seu neto
Arthur. É o que revelam mensagens de chats privados no Telegram enviados ao
site The Intercept Brasil e analisados em parceria com o UOL.
Os diálogos checados pelos dois veículos
mostram também que procuradores divergiram sobre o pedido do ex-presidente de
deixar a prisão para acompanhar o enterro de seu irmão Genival Inácio da Silva,
o Vavá, em janeiro de 2018.
Na época, alguns membros da “lava jato”
chegaram a temer que os simpatizantes de Lula impedissem o retorno do
ex-presidente à superintendência da PF, em Curitiba.
Carne salgada
No dia 24 de janeiro de 2017, Marisa
Letícia sofreu um AVC hemorrágico e foi internada no Hospital Sìrio-Libanês. Na
data, Deltan Dallagnol escreveu no chat que Marisa havia chegado debilitada ao
hospital.
"Um amigo de um amigo de uma prima
disse que Marisa chegou ao atendimento sem resposta, como vegetal", afirma
Deltan. O procurador Paulo Paludo reagiu à informação dizendo: "Estão
eliminando as testemunhas".
A morte encefálica da ex-primeira-dama foi
confirmada no dia 3 de fevereiro de 2017. Na véspera, a procuradora Laura
Tesler sugeriu que Lula faria uso político da morte da ex-mulher. Ela também
ironizou a possibilidade da saúde da esposa de Lula ter piorado após condução
coercitiva do ex-presidente.
"Ridículo... Uma carne mais salgada
já seria suficiente para subir a pressão... ou a descoberta de um dos milhares
de humilhantes pulos de cerca do Lula", escreveu Laura.
O procurador Antônio Carlos Welter
comentou que "a morte da Marisa fez uma martir [sic] petista e ainda
liberou ele pra gandaia sem culpa ou consequência politica".
Fogo amigo
O enterro da ex-primeira-dama causou até
crítica de procuradores da “lava jato” a outros colegas. Thaméa Danelon se
mostrou incomodada com a presença da procuradora Eugênia Augusta Gonzaga no
velório da ex-primeira-dama.
"Olhem quem estava no velório da ré
Marisa Leticia", escreve às 14h07 no grupo "Parceiros/MPF - 10
Medidas", ao citar fotografia de Eugênia na cerimônia.
Thaméa foi questionada sobre qual seria o
problema da presença de Eugênia no velório e comparou o PT a uma facção
criminosa."É como um colega ir ai enterro da esposa do líder de uma facção
do PCC. No mínimo inapropriado", compara.
Morte de Vavá
Já preso na sede da PF em Curitiba, Lula
perdeu o seu irmão Vavá em decorrência de um câncer no dia 1º de março. Parte
dos procuradores defendeu que ex-presidente tinha direito a ir ao enterro do
irmão enquanto outra ala alegava que ele não era um preso comum.
O procurador Orlando Martello escreveu uma
mensagem em que diz achar "uma temeridade" Lula sair da prisão
temporariamente. "A militância vai abraçá-lo e não o deixarão voltar. Se
houver insistência em trazê-lo de volta, vai dar ruim!! (sic)"
Já o procurador Diogo Castor ponderou que
"todos presos em regime fechado tem esse direito". O MP se manifestou contra o pedido da defesa
de Lula de ir ao enterro do irmão.
Mesmo entendimento de parecer da PF. No
chat, Antônio Carlos Welter diz acreditar que Lula tinha o direito de ir ao
enterro do irmão. "Eu acho que ele tem direito a ir. Mas não tem
como".
Januário Paludo responde: "O safado
só queria passear e o Welter com pena".
A procuradora Laura Tessler reforça o
entendimento de Paludo. "O foco tá em Brumadinho...logo passa...muito
mimimi", escreveu.
O presidente do STF, Dias Toffoli acabou
determinando que Lula tinha direito de enterrar o irmão. A decisão, no entanto,
foi publicada no momento em que Vavá estava sendo enterrado e o ex-presidente
desistiu de se despedir do irmão.
Morte de Arthur
No dia 1º de março circulou a notícia da
morte do neto de Lula de sete anos, Arthur. Na ocasião, a procuradora Jerusa
Viecili comentou sobre um possível novo pedido de saída do ex-presidente para o
velório.
"Tem q fazer igual o Toffoli
deu", argumentou Deltan sobre a possibilidade.
Lula teve autorização para ir ao enterro
do neto e foi transportado por uma aeronave cedida pelo governo do Paraná. Na
data, Deltan compartilhou com colegas uma notícia que revelava um contato telefônico
entre Lula e o ministro do STF Gilmar Mendes em que o ex-presidente teria se
emocionado.
"Estratégia para se 'humanizar', como
se isso fosse possível no caso dele rsrs", comentou o procurador Roberson
Pozzobon.
No enterro, Lula disse que o neto tinha
sofrido bullyng na escola por ser seu neto e prometeu provar que não havia
cometido irregularidades. "Fez discurso político (travestido de despedida)
em pleno enterro do neto, gastos públicos altíssimos para o translado,
reclamação do policial que fez a escolta... vão vendo", comentou Monique
Cheker.
A força tarefa da “Lava Jato” não se
manifestou sobre o material apurado pelos dois veículos. A procuradoras da
Thaméa Danelon e Monique Cheker declararam que não iriam se manifestar sobre as
mensagens citadas na reportagem.
Com informações do Conjur
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