O jornalista e escritor cuiabano Marcelo
Leite Ferraz, de 38 anos, foi encontrado morto nessa segunda-feira (30) em um
terreno baldio na capital de Mato Grosso, com marcas de pancada na cabeça e
afundamento no crânio. Próximo ao corpo, foram encontradas pela Polícia Civil
pedras e um bloco de concreto com manchas de sangue. Ele estava desaparecido
desde o último sábado (28), quando saiu para encontrar amigos em um bar da
região central de Cuiabá e nunca mais voltou para casa.
Marcelo sempre foi um crítico da esquerda
e do PT, além de apoiador da Operação Lava Jato e do ex-juiz Sergio Moro. Ao
longo deste ano, porém, se tornou conhecido na cidade como um crítico ferrenho
do presidente Jair Bolsonaro, de seu governo e de seus apoiadores.
O jornalista, que também era poeta e autor
de sete livros, formou-se em jornalismo pela Universidade Federal de Mato
Grosso (UFMT) e foi um dos vencedores do Prêmio Mato Grosso de Literatura, pelo
romance ‘O Assassinato na Casa Barão’, em 2017. Conhecido repórter e
articulista cuiabano, já tinha trabalhado em alguns dos principais jornais da
sua cidade, como Diário de Cuiabá e Folha do Estado, além da TV Centro América,
retransmissora da Rede Globo em Mato Grosso.
Em coluna que mantinha no site de notícias
políticas cuiabano “O Documento”, Marcelo passou os últimos meses focando todos
os seus escritos em críticas a Bolsonaro.
Seu último artigo data do dia 4 do mês
passado. O título é “Bolsonaro,
o coringa brasileiro”. Nele, se lê:
Após 8 meses de mandato, representado pela
figura de um político antiquado, ultraconservador e hostil aos valores da
democracia, a impressão é que Bolsonaro perdeu as características minimamente
humanas, para vestir o terno colorido da insanidade do coringa brasileiro.
Assim, utilizando-se das facetas
dissimuladas de um palhaço irônico e trágico, o mitomaníaco vem adotando uma
postura dúbia ao pregar o moralismo ético “interna corporis” para administração
pública do Governo Federal, ou seja, para todos que estão sob seu controle
draconiano, porém, ao mesmo tempo, fecha os olhos para os atos
antirrepublicanos dos seus próprios filhos.
Último artigo publicado
por Marcelo Leite Ferraz, assassinado a pedradas em Cuiabá
Já no dia 1º de agosto deste ano, Marcelo
publicou em sua coluna um texto com o título “Carta
aberta para Bolsonaro”, em que pedia:
Pede para sair capitão! A militância
política, a sociedade civil organizada e os cidadãos de bem deste país, que
lutaram pela redemocratização e pela CF/88, seja aqueles que se identificam com
os valores da esquerda ou da direita, mas que ainda são republicanos e
democratas, não almejam voltar aos tempos de trevas sanguinárias da ditadura.
Finalmente, no dia 12 junho, no artigo “Galos-de-briga
antirrepublicanos!” o jornalista e escritor defendeu que o extremismo
ideológico estaria levando a política do país a enveredar pelos caminhos da
violência e da intolerância:
Resumindo, sem o mínimo de governabilidade
necessária para aprovação das reformas devidas, para alavancar o crescimento e
atrair os investimentos, o país vai de fato continuar nesse cenário
individualista de uma verdadeira rinha de galos, onde a vitória de uns depende
da derrota ou até mesmo da morte de outros. Então, já passou da hora desses
governantes, autoridades e políticos virarem a página da disputa ideológica e
começarem a pensar no povo brasileiro como verdadeiros estadistas que atuam
dentro do Estado Democrático e de Direito.
A Polícia Civil de Mato Grosso investiga o
caso e ainda não divulgou o nome de nenhum suspeito, embora informe já
trabalhar “com algumas linhas de investigação”. As primeiras apurações apontam
para homicídio doloso, em que o jornalista teria perdido a vida em uma briga ou
emboscada.
O delegado de polícia Fausto Freitas, que
comanda as investigações, afirmou na última segunda-feira à imprensa local: “No
local onde estava o corpo, encontramos pedregulhos e pedaços de concreto que
tinham marcas de sangue. Por enquanto, é prematuro dizer alguma coisa. A
família e pessoas próximas não citaram nada de desentendimentos recentes”. O
ex-deputado estadual Maksuês Leite (PP), primo do jornalista, disse que Marcelo
“era uma pessoa muito querida. Incapaz de fazer mal a uma mosca”.
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