segunda-feira, 20 de janeiro de 2020

Em sentença, juiz de SP detona Governo Bolsonaro: “país vive merdocracia liberal neofacista"


Um juiz de São Paulo usou termos chulos para se referir a membros do governo Jair Bolsonaro (sem partido), em sentença publicada na quinta-feira (16) sobre um processo trabalhista.  “A merdocracia neoliberal neofascista está aí para quem quiser ou puder ver”, afirmou Jeronimo Azambuja Franco Neto, da 18ª Vara do Trabalho de São Paulo, na decisão.

O magistrado condenou um restaurante a pagar indenização de R$ 10 mil por danos morais e a comprovar o pagamento do piso salarial para os funcionários, assim como seguro de vida, de acidentes, e assistência funerária. Ainda cabe recurso da decisão.

Em sua justificativa para atender ao pedido feito em ação movida pelo sindicato da categoria contra o estabelecimento, o juiz cita vários ministros do governo federal e o próprio presidente.

“O ser humano Weintraub no cargo de Ministro da Educação escreve ‘imprecionante’. O ser humano Moro no cargo de Ministro da Justiça foi chamado de ‘juizeco fascista’ e abominável pela neta do coronel Alexandrino. O ser humano Guedes no cargo de Ministro da Economia ameaça com AI-5 (perseguição, desaparecimentos, torturas, assassinatos) e disse que ‘gostaria de vender tudo’. O ser humano Damares no cargo de Ministro da Família defende ‘abstinência sexual como política pública’. O ser humano Bolsonaro no cargo de Presidente da República é acusado de ‘incitação ao genocídio indígena’ no Tribunal Penal Internacional. Eles não estão aí de graça. Há bilionários e asseclas por trás de sabujos em golpes de estado promovidos em guerra híbrida, como no desvirtuamento da mecânica jurídica em um verdadeiro mecanismo neofascista”, afirma no texto.

“[…] Creio que as palavras supra bem elucidam o que denomino merdocracia, isso mesmo, o poder às merdas. […]No aspecto do trabalho, são também exemplos da proliferação neofascista a cadavérica Reforma Trabalhista. […] E aqui nem preciso lembrar as múltiplas medidas provisórias, melhor designadas de merdas progressivas oriundas do Presidente da República”, diz.

Ao analisar o caso, o magistrado define a realidade brasileira como “merdocracia”. “O sufixo "cracia" significa poder e domínio. Já o substantivo "merda" pode significar excrementos orgânicos, alguém pejorativamente ou interjeição de sorte no meio cultural (a ser vítima de diversas censuras, como no caso do filme Marighella, censurado no Brasil, ou na censura judicial ao Especial de Natal do Porta dos Fundos). A acepção aqui privilegiada é aquela quando referida a uma merda feita, uma cagada, ou seja, fez algo errado. Em suma, merdocracia vem a sintetizar o poder que se atribui aos seres humanos que fazem merdas e/ou perpetuam as merdas feitas. E tudo isso em nome de uma pauta que se convencionou chamar neoliberal, ou seja, libertinar a economia para que as merdas sejam feitas. Mas há a merda fundamental por trás dessa pauta. A existência do Estado nos marcos da Declaração Universal dos Direitos Humanos (1948) e da Constituição do Brasil (1988) é voltada à promoção da igualdade e dos direitos humanos fundamentais, elementos de inteligência odiados pela ignorância merdocrata”, argumenta.

O texto da sentença também afirma que as pessoas são “bombardeadas pelas merdas (como no caso das fake news) de modo a se construir uma identidade fascista. Cada um se torna seu próprio algoz e/ou algoz dos demais movido pelo ódio ao indesejado”.

Ele também critica o procurador da República Deltan Dallagnol que, segundo ele, “imbuído da lucratividade com suas palestras e holofotes (como revela The Intercept Brasil), propagou fazer jejum para o aprisionamento de Lula em um sistema penal, como já dito, fracassado e racista no Brasil. Cabe lembrar que Jesus Cristo vivia como mendigo nômade a perambular na pobreza, amava os odiados, como leprosos e prostitutas, e foi crucificado pelo sistema penal da época”.

O magistrado argumenta que a “merdocracia neoliberal neofascista está aí para quem quiser ou puder ver". "A ela esta decisão não serve, pelo contrário, visa a contribuir para sua derrocada." Por fim, o juiz afirma o lugar de fala de sua decisão não é voltado ao mercado e nem ao lucro, mas “ao trabalho humano digno voltado à igualdade e aos direitos humanos fundamentais”.

Leia a íntegra da sentença








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