Vacina
teve o efeito esperado pelos pesquisadores nos primeiros estágios. Terceira
fase dos testes está ocorrendo no Brasil. É provável que seja necessário tomar
uma segunda dose da vacina.
Cientistas da Universidade de Oxford, no
Reino Unido, anunciaram nesta segunda-feira (20) que, de acordo com resultados
preliminares, a vacina da universidade para a Covid-19 é segura e induziu
resposta imune no corpo dos voluntários. Os resultados, que já eram esperados
pelos pesquisadores, se referem às duas primeiras fases de testes da
imunização. A terceira fase está ocorrendo no Brasil, entre outros países.
O efeito deve ser reforçado após uma
segunda dose da vacina, segundo os cientistas.
Entenda
a novidade anunciada:
– a vacina de Oxford é a mais adiantada,
das que estão em pesquisa. Ela está sendo testada também no Brasil
– testes iniciais agora apontam que ela é
segura e induz o corpo a reagir contra a Covid-19; o resultado é o esperado
– o resultado não permite ainda concluir se
de fato uma pessoa exposta ao Sars-Cov-2 fica imune com a vacina
– a fase 3, final, ainda está em andamento
e ela é que irá determinar se há eficácia num grande número de pessoas
As fases 1 e 2 dos testes, que foram
conduzidas simultaneamente no Reino Unido, tiveram 1.077 voluntários. Os
ensaios mostraram que a vacina foi capaz de induzir a resposta imune tanto por
anticorpos como por células T até 56 dias depois da administração da dose.
"Exatamente o tipo de resposta imune
que esperávamos", declarou Andrew Pollard, professor de pediatria na
Universidade de Oxford.
Mais de 160 vacinas estão sendo
desenvolvidas em todo o mundo, segundo a OMS. Mulher segura frasco com a
inscrição "Vacina Covid-19" em foto do dia 10 de abril de 2020 —
Foto: Dado Ruvic / Reuters
Os pesquisadores dividiram os participantes
em dois grupos: 543 pessoas receberam a vacina experimental, e outras 534
receberam uma vacina de meningite (o grupo controle).
Saiba
mais sobre a vacina
A resposta imune foi medida em laboratório.
São necessários mais testes para confirmar se a vacina protege efetivamente a
população contra infecções pelo novo coronavírus, explicou Pollard.
Os cientistas ainda não sabem, exatamente,
o quanto de resposta imune é necessária para combater a doença, lembrou o
cientista.
Foi vista uma resposta por células T
(células do sistema imune capazes de identificar e destruir outras células
infectadas) 14 dias após a dose. Já os anticorpos, capazes de destruir o
próprio vírus, foram identificados 28 dias após a administração da vacina.
Anticorpos neutralizantes podem se conectar
ao vírus assim que eles entram no corpo e impedir que infectem as células. As
células T não reconhecem o vírus "sozinho", mas sim células
infectadas com ele e destroem as células. "Os dois sistemas funcionam de
forma complementar para combater a infecção", explicou a cientista Sarah
Gilbert, de Oxford.
A vacinologista Sarah Gilbert, também de
Oxford, explicou que a eficácia da vacina ainda não foi testada em idosos.
Com informações do G1
Foram divulgadas ainda algumas reações
causadas pela vacina. As principais são braço machucado, algum inchaço ao redor
da injeção, febre, dores musculares, que são esperadas para vacinas virais. Não
houve efeito adverso sério ligado à vacina. "Precisamos de uma amostra
maior para determinar completamente a segurança", explicou Andrew Pollard,
sobre a necessidade dos estudos em fase 3.
“A nova vacina usa um vírus do resfriado
comum (adenovírus) que infecta chimpanzés, que foi enfraquecido para não causar
nenhuma doença em humanos e é geneticamente modificado para codificar a
proteína spike (S) do Sars-CoV-2 (aquela que o coronavírus usa para invadir as
células humanas). Isso significa que, quando o adenovírus entra nas células das
pessoas vacinadas, ele também fornece o código genético da proteína S. Isso faz
com que as células dessas pessoas produzam a proteína S, e ajuda a ensinar o
sistema imunológico a reconhecer o vírus Sars-CoV-2", explicou Pollard.
Pesquisa
adiantada
A vacina pode estar disponível para alguns
grupos de risco no Reino Unido até o fim do ano, mas provavelmente não estará
para todos, afirmou Sandy Douglas, de Oxford.
De acordo com Soraia Smaili, reitora da
Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), o imunizante, se tudo der certo,
poderá ter o registro liberado em junho de 2021,
Ao todo, 50 mil pessoas participam dos
testes em todo o mundo, 10% delas no Brasil: 2 mil em São Paulo, 2 mil na Bahia
e outras 1 mil no Rio de Janeiro. O Centro de Referência para Imunobiológicos
Especiais (CRIE) da Unifesp coordena a aplicação da vacina em São Paulo, que
começou em junho com voluntários da área da saúde.
"Com a quantidade de pessoas que estão
recebendo a vacina no mundo, é possível que tenhamos resultados promissores no
início do ano que vem e o registro em junho", afirma Soraia Smaili, reitora
da Unifesp.
A Organização Mundial de Saúde (OMS)
classificou a vacina de Oxford como a mais adiantada no mundo e, também, a mais
avançada em termos de desenvolvimento. Um dos centros que testa essa vacina é
coordenado por uma brasileira, a cientista Daniela Ferreira, doutora pelo
Instituto Butantan.
Roberto Medronho infectologista da UFRJ, em
entrevista à Globonews, afirmou que o resultado divulgado nesta segunda era
esperado, mas agora foi oficializado.
O acordo com o Brasil permitirá que o país
adapte a fábrica de Biomanguinhos para produzir a vacina e disponibilizá-la
depois da fase três dos ensaios clínicos.
"O acordo da Fundação Oswaldo Cruz é
benéfico para nós. Envolve não apenas os pacientes recrutados para o teste, mas
a transferência [de tecnologia]. Há um acordo para reconfigurar a planta da
Biomanguinhos para que depois da fase três ela possa ser produzida",
comentou.
A ideia de incluir a população brasileira
se dá, também, para testar a eficácia da vacina em um grupo etnicamente mais diverso.
A vacina pode ter resultados de diferentes
eficácias, de acordo com cada população. Daí a importância de testar em vários
países, afirmou Medronho.
Mais de 160 vacinas contra Covid em testes
De acordo com a OMS, há 163 vacinas sendo
testadas contra o coronavírus, sendo que 23 delas estão na fase clínica, que é
o teste em humanos. Os números são do balanço da organização com dados até 14
de julho.
O vacinologista de Oxford Adrian Hill
explicou que é difícil comparar a efetividade das várias vacinas que estão
sendo testadas, porque os parâmetros não são os mesmos. "Gostaríamos de
testar as outras vacinas no nosso laboratório", disse Hill.
As etapas de produção de uma vacina
envolvem 3 fases:
Fase 1: avaliação preliminar com poucos
voluntários adultos monitorados de perto;
Fase 2: testes em centenas de participantes
que indicam informações sobre doses e horários que serão usados na fase 3.
Pacientes são escolhidos de forma randomizada (aleatória) e são bem
controlados;
Fase 3: ensaio em larga escala (com
milhares de indivíduos) que precisa fornecer uma avaliação definitiva da
eficácia/segurança e prever eventos adversos; só então há um registro sanitário
Embora os estudos avancem em todo o
planeta, o prazo de 12 a 18 meses para liberação é considerado um recorde. A
vacina mais rápida já criada, a da caxumba, levou pelo menos quatro anos para
ficar pronta.
Outra hipótese contra a qual todos os
pesquisadores lutam é a de que uma vacina efetiva e segura nunca seja
encontrada. O vírus do HIV, que causa a Aids, é conhecido há cerca de 30 anos,
mas suas constantes mutações nunca permitiram uma vacina.
Jamal Suleiman, infectologista do Instituto
Emílio Ribas, explica, em entrevista à Globonews, que a produção de vacinas
acontece ao mesmo tempo em que os estudos se desenvolvem pela primeira vez na
história.
O risco é de um prejuízo financeiro caso o
ensaio clínico mostre que a vacina não é eficaz para proteger contra o
Sars-Cov-2.
Os efeitos da vacina nunca vão deixar de
ser observados, mesmo depois de um eventual uso em massa, explica Suleiman.
Os outros estudos que acontecem agora
também não são desperdiçados, ele afirmou.
"É importante termos vários modelos de
vacinas. Um produto pode ser melhor para vários tipos de situação se atingir o
maior número possível de pessoas, mas uma vacina não esgota o repertório.
Provavelmente, alguns grupos populacionais não serão beneficiados por esse
produto, mas, talvez, por outro", disse ele.
Com informações do G1
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