Pastor Anderson do
Carmo foi morto em junho de 2019; Conselho de Ética já havia aprovado relatório
pela cassação. Parlamentar nega as acusações e se diz alvo de 'injustiça'.
O
plenário da Câmara dos Deputados aprovou nessa quarta-feira (11), por 437 votos
a 7, a cassação do mandato da deputada Flordelis (PSD-RJ). Outros 12 deputados
se abstiveram.
Flordelis
é acusada de ser a mandante do assassinato do marido, o pastor Anderson do
Carmo, em junho de 2019. O processo criminal ainda não foi julgado, mas os
deputados consideraram que a atuação da parlamentar ao longo do caso feriu o
Código de Ética da Câmara.
Eram
necessários, pelo menos, 257 votos favoráveis à cassação para a perda do
mandato.
A
deputada é ré na Justiça, acusada pelo Ministério Público do Rio de Janeiro de
ter mandado matar o marido.
Flordelis
responde por homicídio triplamente qualificado (motivo torpe, emprego de meio
cruel e de recurso que impossibilitou a defesa da vítima), tentativa de
homicídio, uso de documento falso e associação criminosa armada.
A
deputada nega participação no crime, diz que é vítima de uma injustiça e que o
caso ainda não foi analisado pela Justiça.
A
cassação do mandato de Flordelis já havia sido aprovada pelo Conselho de Ética
da Câmara em junho, mas a palavra final coube ao plenário da Casa.
O
relator do processo, deputado Alexandre Leite (DEM-SP), considerou que as
provas já obtidas, em mensagens e depoimentos, mostram que a deputada teve
participação ativa no planejamento da morte de Anderson do Carmo.
O que disse o relator
Como
relator, Alexandre Leite foi o primeiro a falar sobre o caso na sessão desta
quarta. Inicialmente, disse que a decisão sobre a eventual participação de
Flordelis no assassinato não será tomada pela Câmara – e sim, pelo Tribunal do
Júri que analisar o caso na Justiça do Rio.
"Aqui,
nós nos ativemos às questões meramente ético-disciplinares que regem o mandato
parlamentar", resumiu Leite.
Para
o relator, a deputada usou o mandato para coagir testemunhas e ocultar provas.
Flordelis também teria se utilizado da função parlamentar para ocultar provas e
obstruir investigações, além de ter mentido ao Conselho de Ética.
"[Tentou]
obstruir as investigações com teses de latrocínio, confundindo a polícia,
direcionando a polícia em caminhos diversos daqueles em que, de fato,
encontrariam a verdade dos fatos", afirmou.
Leite
também fez a leitura de mensagens atribuídas a Flordelis, e descobertas ao
longo das investigações no Rio de Janeiro, que revelam "a frieza" da
parlamentar.
"Faço
a leitura de alguns trechos destacados na página 14 do parecer da quebra de
sigilo telemático a mostrar a frieza com que a Deputada tratava em suas
mensagens telefônicas seus filhos, outros interlocutores, todas essas juntadas
nos autos, entre aspas: 'Fazer o quê? Separar eu não posso, porque não posso
escandalizar o nome de Deus, isso não. Mas vou encontrar um jeito, uma
saída'", destacou o relator.
"O
relacionamento entre a deputada e o seu ex-marido, perante as conversas
interceptadas, já vinha de longo tempo, de longa data em maus caminhos, e mal
encaminhado, até que tomasse esse fim trágico", acrescentou Leite.
Ele
destacou ainda que Anderson Gomes foi morto com 30 tiros, que teriam sido
efetuados por um dos filho da parlamentar, chamado Flávio. Nove disparos
atingiram a região da genitália do pastor, narrou o relator.
"Os
nove tiros, como podem ver, se encontram em área concentrada da região pélvica
do pastor Anderson do Carmo, ou seja, a vítima já havia, muito provavelmente,
parado de se contorcer. Este foi o nível da crueldade deste crime", disse
Leite.
Ao
final do seu pronunciamento, o relator afirmou que as provas coletadas
demonstram que "a representada tem um modo de vida inclinado para a
prática de condutas não condizentes com aquilo que se espera de um
representante do povo".
O que disse a deputada
Flordelis
falou após o relator, disse que o parecer foi baseado em "palavras sem
provas" e defendeu sua inocência em relação ao crime.
"Se
caso eu sair daqui hoje, eu saio de cabeça erguida porque eu sei que sou
inocente e todos saberão que eu sou inocente. A minha inocência será provada.
Vou continuar lutando para garantir a minha liberdade, a liberdade dos meus
filhos e da minha família, que está sendo injustiçada também com tudo o que
está acontecendo. A minha família está sofrendo. A minha família está sendo
julgada", declarou Flordelis.
Em
outro momento, a deputada disse que filhos dela "erraram" – mas não
todos.
"Houve
filhos meus que erraram, mas não foram todos. Mas toda a minha família está
sendo criminalizada. Eu não posso e não devo pagar pelos erros de ninguém. A
Flordelis que está aqui está destruída", afirmou.
Ela
também frisou que ainda não foi julgada pela Justiça e que os parlamentares
estavam cassando alguém que não passou por julgamento. A deputada também apelou
para a religião para tentar sensibilizar os colegas.
"Desconstruíram
a minha imagem me chamando de frequentadora de casa de suingue, porque não
encontram provas contra mim, porque não existem provas contra mim, porque eu
sou inocente. Desconstruíram a minha imagem me chamando de feiticeira. São
coisas que eu não sou. Eu sirvo a um Deus que é Deus de Abraão, Isaque, Jacó e
meu também", afirmou.
Advogado
de Flordelis, Jades Marques disse que a parlamentar era totalmente apaixonada
pelo pastor Anderson do Carmo e vítima dessa paixão. Ele também fez acusações
contra o falecido, que, segundo o advogado, era um "estuprador", que
abusava das próprias filhas do casal.
A
defesa de Flordelis também pediu que os deputados aprovassem alguma alternativa
à perda definitiva do mandato. Como opção, sugeriram uma suspensão de seis
meses até que a deputada fosse julgada pelo Tribunal do Júri.
Com
informações do G1
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