Morreu nesta quarta-feira (18) o líder camponês Manoel da Conceição, de 85
anos, fundador do Partido dos Trabalhadores e um dos ícones da resistência
contra a ditadura militar instalada no Brasil em 1964.
Segundo mensagem do PT, “depois de mais de 20 dias de luta e esperança, o
nosso Manoel da Conceição partiu para o mundo dos justos. Que descanse em paz
querido Manuel”.
O presidente estadual do PT, Augusto Lobato, ao tomar conhecimento do
falecimento do presidente de honra do partido disse que é motivo de muita
tristeza perder a maior liderança camponesa.
“O Maranhão e os camponeses estão de luto”, lamentou Lobato.
Nascido na região de Pedra Grande, no Maranhão, Mané, como é conhecido
pelos movimentos, lutou toda sua vida pela organização sindical dos
trabalhadores e trabalhadoras rurais. Começou organizando uma entidade em
Pindaré-Mirim (MA) e, daí em diante, sua militância não parou. Participou da
fundação da Central Única dos Trabalhadores (CUT), do Centro de Educação e
Cultura do Trabalhador Rural (CENTRU) e do Partido dos Trabalhadores (PT). Toda
sua vida também esteve ligada às forças progressistas das igrejas evangélica e
católica.
Boa parte da sua trajetória foi marcada pela resistência à ditadura
militar após o golpe de 1964. Tudo começou quando viu as terras dos seus pais
sendo tomadas por grandes fazendeiros e, nessas lutas territoriais na região,
foi baleado em um dos pés. Mesmo ferido, foi preso e, após alguns procedimentos
médicos em São Paulo, teve uma das pernas amputada. Ainda assim, não parou de
organizar sindicatos e cooperativas, além de sempre lutar pela reforma agrária.
Passou a ser visto pelo governo como um subversivo. Ficou preso por mais de
três anos, foi torturado diversas vezes, até que se refugiou em Genebra, na
Suíça. Na Europa, realizou diversas palestras e debates com o apoio da Anistia
Internacional e demais entidades dos direitos humanos.
Reconhecido pelos movimentos e autoridades, quase concorreu ao cargo de
governador do estado de Pernambuco. Em 1994, lançou-se candidato ao Senado pelo
PT do Maranhão, mas não foi eleito, apesar dos expressivos 111 mil votos
conquistados. Com a saúde frágil, Manoel Conceição tem reduzido suas
atividades, mas segue dedicando-se às cooperativas que ajudou a criar, através
da Central de Cooperativas Agro-extrativistas do Maranhão (CCAMA), além de
participar de articulações como a Rede de Frutos do Cerrado.
O Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) da região do
Tocantins e as organizações sindicais e da sociedade civil do Maranhão
realizaram, a semana passada, uma reunião virtual para comemorar os 85 anos e
homenageá-lo. Com a participação de poetas, professores, lideranças sindicais,
familiares, dentre outros admiradores e parceiros, várias pessoas relataram a
inspiração que o lutador deu aos movimentos Brasil afora.
Outra liderança estadual importante, Joaquim Alves, da União Nacional de
Cooperativas da Agricultura Familiar e Economia Solidária (Unicafes), amigo de
luta há mais de 35 anos, reforçou como toda militância da região aprendeu muito
com Manoel. “Sua defesa em busca de uma nova economia solidária, com o
empoderamento da classe trabalhadora, ensinou muita gente”, reconheceu Alves.
“Dizia que o trabalhador tinha que ser dono das suas ferramentas, da sua
estrutura de produção, por dentro de um cooperativismo solidário. Falávamos da
construção de uma grande entidade no Brasil, a Unicafes, da qual tenho a honra
de ter participado da primeira direção junto com o Manoel. Hoje, temos uma
grande organização como fruto da ideia e do aconselhamento deste grande homem”,
afirmou.
O dirigente nacional do Movimento dos Trabalhadores Rurais sem Terra
(MST), João Pedro Stédile, destacou a importância do camponês para os
movimentos rurais no país. “O povo brasileiro sempre lutou por seus direitos e
causas de libertação. Essas lutas ficam registradas em livros através de suas
lideranças. O MST sempre se abasteceu das lições históricas do nosso povo, mas
você, em particular, representa as lutas anteriores dos sindicatos e das ligas,
no exílio, em defesa da classe trabalhadora. Você fez a ponte que ligou essa
luta ao nosso movimento. Temos uma gratidão enorme por sua coerência e
exemplo”, disse Stédile, ao referir-se a Manoel Conceição.
O governador do Maranhão, Flavio Dino (PCdoB), ressaltou que Conceição é
uma figura imprescindível quando se analisa a história do estado. “Você tem
enorme papel nas lutas sociais, especialmente na luta pela reforma a agrária, e
apoio à produção do nosso estado. Esses vínculos se materializam de várias
formas, uma delas foi quando, em repúdio àqueles que louvam a ditadura militar,
homenageamos Manoel como um dos heróis da resistência popular e democrática no
Brasil”, lembrou Dino.
No encerramento, o sociólogo Marcos Arruda, do Instituto Pacs (Políticas
Alternativas para o Cone Sul) lembrou os mais de 50 anos de amizade entre eles.
“Ele [Manoel] foi preso várias vezes. Talvez seja uma das pessoas mais velhas
que sobrevive ao maior horror das torturas. É um herói da luta do nosso povo”,
concluiu.
Com informações da Articulação Nacional de Agroecologia
Era um exemplo de resistência !
ResponderExcluirSe é PT, com certeza não prestava.
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