Somas milionárias foram depositadas em contas da Cruz Vermelha no Maranhão
REYNALDO TUROLLO JR.
DE SÃO PAULO
FELIPE BÄCHTOLD
DE PORTO ALEGRE
Ligada a uma das principais entidades
assistenciais do mundo, a CVB (Cruz Vermelha Brasileira) é alvo de
investigações em quatro Estados sob suspeita de desvio de recursos. O órgão
nega irregularidades.
Há apurações em curso no Rio, no Rio
Grande do Sul, em Santa Catarina e na Paraíba.
A CVB nacional iniciou, em 2011, três
campanhas cuja arrecadação é desconhecida. Segundo órgãos da própria Cruz
Vermelha, o dinheiro não chegou às vítimas das chuvas no Estado do Rio, do
tsunami no Japão e da fome na Somália.
O caso foi revelado nesta semana pela
revista "Veja".
A Cruz Vermelha tem sede na Suíça. No
Brasil, há um órgão central (CVB nacional) e filiais estaduais e municipais,
que têm autonomia para campanhas e convênios.
A denúncia partiu da filial de Petrópolis
(RJ), que diz não ter recebido nenhum recurso para as vítimas das enchentes.
"As pessoas doam não se sabe quanto e não se sabe a destinação", diz
a presidente da filial, Letícia Chelini. A polícia investiga o caso.
"Solicitamos o valor arrecadado
para o Japão, mas a CVB não respondeu", diz o representante da Federação
Internacional da Cruz Vermelha na América do Sul, Gustavo Ramirez. O mesmo
ocorreu com o Comitê Internacional da CV, que quis saber quanto havia sido doado
para a Somália.
O dinheiro das três campanhas foi
depositado em duas contas da filial do Maranhão, presidida por Carmen Serra,
irmã do presidente da CVB nacional, Walmir Serra Júnior.
Em meio à crise, uma comissão interna de
finanças que deveria acompanhar o trabalho da CVB nacional foi destituída pela
Justiça, a pedido de membros da entidade ligados à presidência.
Segundo a presidente da filial de
Petrópolis, a gestão anterior à dela fez desvios de R$ 6 milhões --metade disso
de um contrato com o governo do Distrito Federal para gerir duas UPAs (Unidades
de Pronto Atendimento) em Brasília.
"O dinheiro entrou na conta da
filial e em 15 dias não tinha nada. O serviço nunca foi prestado", diz
Chelini.
Em Balneário Camboriú (SC), onde a CV
gaúcha administrava um hospital, uma CPI municipal concluiu que R$ 1,7 milhão
foi desviado para as contas da filial do Maranhão.
O contrato foi suspenso e 16 pessoas
foram indiciadas, incluindo Serra Júnior, presidente da CVB nacional, e seu
vice, Anderson Choucino.
Na Paraíba, a Justiça do Trabalho
condenou a mesma filial gaúcha a pagar R$ 20 milhões de indenização por danos
morais por firmar parceria "irregular" para gestão do Hospital de
Trauma. O órgão recorreu da decisão.
OUTRO
LADO
O presidente interino da CVB nacional,
Anderson Choucino, nega as irregularidades e diz ter criado uma comissão
interna para averiguar quanto foi arrecadado para Japão, Somália e Rio.
"Não temos a informação exata de
quanto foi. Vamos divulgar o que de fato foi arrecadado, e os recursos serão
investidos", afirma.
O presidente da CVB nacional, Walmir
Serra Júnior, licenciou-se do cargo na semana passada por causa de problemas de
saúde na família, diz o presidente interino.
Segundo Choucino, as campanhas
utilizaram duas contas da filial do Maranhão porque a CVB nacional tem dívidas
trabalhistas e não pode abrir contas em seu nome. Da mesma forma, diz, a filial
do Rio tem pendências que não lhe permitiam abrir conta.
A irmã do presidente da CVB nacional,
Carmen Serra, diz que os valores depositados nas contas do Maranhão só poderiam
ser divulgados pela CVB nacional.
A Folha não localizou o ex-presidente da
CV de Petrópolis, Richard Strauss.
O presidente da Cruz Vermelha do Rio
Grande do Sul, Nício Lacorte, nega irregularidades na gestão dos hospitais em
Santa Catarina e na Paraíba.
Nenhum comentário:
Postar um comentário