"Quero que esse dia seja uma lição para aqueles que nos tratam como cidadãos de segunda classe, que [acham que] democracia é uma letra morta na constituição"
FOLHA DE SÃO PAULO
e Brasil 247
Em ato contra o impeachment da
presidente Dilma Rousseff na noite desta sexta-feira (18) na avenida Paulista,
o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva disse que a oposição ainda não
aceitou o resultado da eleição de 2014.
"Eles acreditaram que iriam
ganhar as eleições. Quando a presidente Dilma ganha, eles, que se dizem pessoas
estudadas, não aceitaram. Eles estão atrapalhando a presidente Dilma a
governar."
Lula acompanhou os gritos da
multidão de "não vai ter golpe" que interromperam seu discurso.
O petista, que começou a falar
por volta de 19h30, adotou um tom conciliador com os adversários e não faz
críticas à operação Java Jato, como fizera no dia em que foi levado à força
para depor pela Polícia Federal.
Dirigindo-se aos que não gostam
dos petistas, declarou: "Temos que convencê-los que democracia é o
resultado do voto da maioria do povo brasileiro." Ao final do discurso,
ainda pediu aos manifestantes que não aceitassem provocações na volta para
casa.
"Eu virei outra vez
'Lulinha paz e amor'. Não vou lá para brigar, vou lá [para o ministério] para
ajudar a companheira Dilma a fazer as coisas que ela precisa fazer por esse
país", afirmou. "Eu acho muito engraçado que essa semana inteira
alguns setores ficaram dizendo que nós somos os violentos. E tem gente que
prega a violência contra nós 24 horas por dia."
"Venho dizer aos
companheiros que fazem protesto contra mim: protestem, eu nasci na vida
protestando, fazendo greve, fazendo campanha pelas Diretas. Mas eu queria dizer
que eles têm que saber que estas pessoas que estão aqui, de vermelho, são parte
das pessoas que produzem o pão de cada dia do povo brasileiro. Elas não estão
aqui porque tiveram metrô de graça, não estão aqui porque foram convocadas
pelos meios de comunicação a semana toda. Elas estão aqui porque sabem o valor
da democracia, porque sabem o valor de fazer o pobre subir uma escala no degrau
da economia. Se eles comem três vezes por dia, nós queremos comer três vezes
por dia", discursou Lula.
"Quero que esse dia seja
uma lição para aqueles que nos tratam como cidadãos de segunda classe, que
[acham que] democracia é uma letra morta na constituição"
"Eu pensei que nada mais
pudesse mais me emocionar", disse o presidente, com a voz embargada e sob
aplauso dos presentes no início de sua fala.
Segundo a organização, há 250
mil pessoas no ato. A PM não fez estimativa.
Ao longo do dia, ônibus chegaram
do interior de São Paulo e do ABC com manifestantes. Eles usam roupas vermelhas
–soltaram até uma fumaça desta cor na avenida–, tocam o jingle que lançou Lula
em 1989, "Lula lá, brilha uma estrela" e cantam "agora, ficou sinistro,
o Lula virou ministro".
O ex-presidente, aliás, é o
protagonista do protesto. Há poucas menções à presidente Dilma. Na avenida,
camelôs tentam, sem sucesso, vender as bandeiras do Brasil que fizeram sucesso
no protesto pró-impeachment de domingo (13). O cantor Chico César se apresentou
na avenida. Ao fim de cada música, gritos de "não vai ter golpe".
Manifestantes criam uma jararaca
de tecido e cartolinas, em alusão ao animal escolhido por Lula para
personificar a si próprio.
HADDAD
O prefeito de São Paulo,
Fernando Haddad (PT), discursou logo antes de Lula.
"Esse ato histórico é pela
democracia brasileira. O estado democrático de direito está sob risco hoje.
Ninguém pode ser constrangido em sua casa para depor coercitivamente. Ninguém
pode ter conversas íntimas telefônicas divulgadas dessa maneira. Onde se vê
hoje é um julgamento sumário", disse Haddad.
"O que se vê no Brasil hoje
é um julgamento sumário", disse o prefeito, pré-candidato à reeleição.
Haddad disse que ato defende
inclusive o direto daqueles que foram se manifestar na Paulista no domingo.
Abaixo outros trechos do
discurso do ex-presidente Lula:
"Essas pessoas não estão
aqui porque teve metrô de graça. Essas pessoas estão aqui porque sabem o valor
da democracia"
"Queremos um país sem
ódio"
"Eles têm de saber que as
pessoas que estão aqui são as pessoas que produzem o pão de cada dia desse
país"
"Tudo o que a gente quer é
os mesmos direitos que eles. Se eles podem estudar e comer três vezes ao dia,
nós também queremos"
"Terça-feira, se não houver
impedimento, eu estarei orgulhosamente servindo a minha presidenta Dilma,
porque estarei servindo o povo brasileiro, o trabalhador brasileiro. Se eu não
acreditasse nisso eu não teria aceito"
"Democracia é acatar o voto
da maioria"
"Aceitei participar do
governo, porque faltam dois anos e dez meses para fazer esse país voltar a ser
feliz"
"Se a gente não conseguir
convencer as pessoas a mudarem de ideia, a gente tem que convencer que a
democracia é acatar a maioria do voto do povo brasileiro"
"Eu quero trabalhar para
que um dia a gente possa vir na Paulista e sentar em um bar com aqueles que
hoje divergem da gente"
"É humanamente impossível
uma presidenta ter tranquilidade com a quantidade de desgraça que ela lê todo
dia, com a quantidade de complicações, de críticas negativas todo santo dia. Eu
sei o que é isso"
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