Uso político da operação carbono 14:
coincidência o estratégia?
Por Marcelo Auler
Os mandados utilizados nesta sexta-feira
(01/04) estavam assinados desde 15 de fevereiro e ficaram guardados em alguma
gaveta. Por quê?
Talvez não tenha sido mera coincidência
o fato de a Operação Carbono 14, que mais uma vez tem como alvo o Partido dos
Trabalhadores (PT) – inclusive remexendo em um caso mal esclarecido até o
momento -, ter ocorrido no dia seguinte à sessão em que o Supremo Tribunal
Federal (STF) confirmou a decisão do ministro Teori Zavascki de avocar para a
corte as investigações em torno do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
Agora, mesmo sem poder investigar Lula
por conta do sítio de Atibaia, Moro continua em cima do PT através do Caso
Celso Daniel e das propinas que o ex-secretário do partido, Sílvio Rodrigues,
teria recebido. Tudo girando sempre em torno do desvio de verbas dos contratos
da Petrobras, segundo as justificativas dos operadores da Lava Jato. A grande
curiosidade é com relação a datas.
Os mandados para a operação desta
sexta-feira (01/04) foram assinados pelo juiz Sérgio Moro em 15 de fevereiro e
revistos no dia 22 do mesmo mês. Apesar disso, sem qualquer explicação
plausível, eles só foram cumpridos agora, decorridos 39 dias. Em Brasília,
acredita-se que o juiz está jogando com as operações politicamente.
O fato de os mandados terem ficado
guardados por tanto tempo e utilizados, por coincidência ou estratégia, um dia
depois da sessão do STF e das manifestações pró-Dilma, chamou a atenção de
autoridade do governo. Agora, se buscará saber se foi mera coincidência ou se
faz parte de uma estratégia para se ganhar espaço na mídia, abafar o noticiário
desfavorável e manter mobilizada a opinião pública.
O objetivo por detrás desta estratégia
seria de manter a opinião pública como aliada dos operadores da Lava Jato,
ainda que gerando grandes risco de conflito. Inclusive com agressões até a
ministros do STF, como ocorreu com Teori Zavascki. Isso já vem sendo admitido
naquela corte. Ali, o próprio ministro Marco Aurélio, na sessão de
quinta-feira, ao criticar a divulgação do conteúdo dos grampos usou uma
expressão direta que não deixa de demonstrar a suspeita com relação às atitudes
do juiz. Na sua manifestação, acusou Moro dizendo que ele:
“colocou mais lenha em uma fogueira cuja
chama já estava muito alta, em prejuízo da paz social e da segurança jurídica”.
O decano da corte, Celso de Mello, foi
mais comedido, mas também cutucou Moro com relação à preocupação do juiz em
satisfazer a opinião pública. Ele lertou que
o dever de proteção constitucional precisa ser respeitado “mesmo que o
clamor popular se manifeste contrariamente”.
Condução
coercitiva novamente
Independentemente da questão da data e
coincidência com as manifestações pró-Dilma, nessa 27ª fase a equipe da Lava
Jato voltou a utilizar o expediente da condução coercitiva. O ex-tesoureiro do
PT, Delúbio Soares e o jornalista Breno Altman, também colaborador do partido –
não se sabe se como testemunhas ou suspeitos – foram forçados a acompanhar os
agentes para prestarem depoimento. Isto sem que eles, antes, tenham sido
intimados. Legalmente, a condução coercitiva só pode acontecer depois que a
testemunha – jamais o suspeito – recusar-se duas vezes a cumprir intimações.
No artigo/depoimento que Breno Altamn
escreveu no JornalGGN de Luis Nassif. – Operação Lava Jato esculacha a
Constituição -, ele corrobora a hipótese do uso político das operações:
“Sou
apenas mais um dos alvos deste tornado antidemocrático.
Não
foi apresentada, durante o interrogatório, qualquer prova ou indício de meu
eventual envolvimento no caso investigado, de suposto empréstimo ao empresário
Ronan Maria Pinto.
A
falta de solidez na inquirição também se revela, por exemplo, pelas perguntas
que diziam respeito às atividades de antiga editora da minha propriedade,
fechada há quase vinte anos, com indagações até sobre o tipo de livros que
publicávamos, e à doação eleitoral de dois mil reais que fiz, em 2006, a Renato
Cinco, então candidato a deputado estadual pelo PSOL do Rio de Janeiro.
O
que importava, afinal, era a criação de fato político que realimentasse tanto a
Operação Lava Jato quanto a ofensiva por um golpe parlamentar contra a
presidente da República”.
Nenhum comentário:
Postar um comentário