Para apetites maiores, o governo tem no
cardápio pelo menos duas pastas a serem negociadas: o Ministério da Cultura e o
Ministério da Transparência
POR CATARINA ALENCASTRO
O Globo
BRASÍLIA - Mesmo com o Congresso parado
por 15 dias para o recesso, o governo não está disposto a dar trégua ao corpo a
corpo que tem feito na base aliada para engavetar a denúncia da
Procuradoria-Geral da República contra o presidente Michel Temer.
O esforço rendeu uma vitória
significativa na semana passada, na Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) da
Câmara, na primeira batalha para rejeitar a denúncia contra Temer por corrupção
passiva. Um time será montado para monitorar os votos com que o presidente já
conta para enterrar o caso no plenário e partir para cima dos indecisos. Nesse
período, benefícios concedidos a “traidores” — os que receberam emendas ou
outro afago e votaram contra o governo — serão revistos.
Pelo mapa do Palácio do Planalto, há 80
deputados da base que ainda não sabem se votarão contra ou a favor de autorizar
o Supremo Tribunal Federal (STF) a julgar a acusação de que Temer cometeu o
crime de corrupção passiva. Esses deputados serão procurados pelo governo e
deverão ser recebidos pessoalmente por Temer, que mostrará a disposição do
governo em atender a seus pleitos. Essa foi a mesma estratégia usada para
conquistar os votos necessários na CCJ: liberação de emendas e cargos.
— Às vezes nem é cargo que o deputado
quer, às vezes falta só um carinho. É uma ligação não atendida por Michel, uma
coisa simples de resolver — diz o deputado Beto Mansur (PRB-SP), vice-líder do
governo.
Mexida na Esplanada
Para apetites maiores, o governo tem no
cardápio pelo menos duas pastas a serem negociadas: o Ministério da Cultura,
abandonado por Roberto Freire (PPS) quando estourou o escândalo da JBS, e o
Ministério da Transparência, que era comandado por Torquato Jardim, realocado
no Ministério da Justiça para reforçar a defesa do governo.
O PTB, que votou em peso contra a
denúncia na CCJ, já teria manifestado interesse em uma dessas pastas. O nome da
deputada Cristiane Brasil (PTB-RJ) estaria circulando para assumir a Cultura. O
chamado centrão, que reúne partidos médios, ainda pressiona para desalojar o
PSDB dos quatro ministérios que ocupa, já que, pelas contas da bancada tucana,
cerca de dois terços dos deputados do partido votarão pela aceitação da
denúncia.
Das 13 trocas de titulares feitas na
CCJ, a pedido do Palácio do Planalto, a maioria aconteceu nos partidos do
centrão —PR, PP, PRB e PTB.
Embora setores do governo digam que a
votação da denúncia pode se arrastar por meses, devido à falta de quórum, o
presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), afirma que, no dia 2 de agosto,
quando está marcada a votação, o plenário estará cheio. Ele diz que o governo
não tem interesse de deixar o assunto suspenso. E a oposição, que poderia
obstruir, também não vai querer ficar com a pecha de que está enrolando,
segundo Maia.
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