Rodrigo Janot avalia unificar duas
denúncias contra Temer
Fabio Serapião, O Estado de S.Paulo
BRASÍLIA - O grupo de trabalho da Lava
Jato na Procuradoria-Geral da República (PGR) pretende apresentar apenas mais
uma denúncia contra o presidente Michel Temer, e não duas como chegou a ser
cogitado em junho. Investigadores trabalham durante o recesso do Judiciário com
a meta de encerrar a apuração que trata dos crimes de obstrução da Justiça e
organização criminosa. O objetivo é finalizar a nova acusação formal antes do
fim do mandato do procurador Rodrigo Janot, em setembro.
Temer foi denunciado ao Supremo Tribunal
Federal há cerca de um mês por corrupção passiva com base na delação do Grupo
J&F. A acusação foi remetida pelo ministro Edson Fachin, relator da Lava
Jato no Supremo, à Câmara, que precisa autorizar o prosseguimento da denúncia.
A votação em plenário está marcada para o próximo dia 2, após a volta do
recesso do Congresso. Na época, a PGR avaliou o oferecimento de mais duas
denúncias contra o presidente, mas agora trabalha com a possibilidade de
oferecer somente uma reunindo os dois crimes.
O objetivo é reforçar a narrativa da
acusação contra Temer, explorando duas vertentes: uma na qual aponta o
envolvimento do presidente da República com o grupo político do PMDB da Câmara,
suspeito de praticar desvios na Petrobrás e na Caixa Econômica Federal; e outra
que trata de eventual ligação de Temer com a suposta tentativa do empresário
Joesley Batista de barrar os acordos de delação premiada do deputado cassado
Eduardo Cunha (PMDB-RJ) e do corretor Lúcio Funaro. Procuradores apontam
conexão entre os crimes de organização criminosa e obstrução da Justiça.
O oferecimento de nova denúncia até
setembro depende do encerramento do inquérito que investiga o PMDB da Câmara
pelo crime de quadrilha. Desmembrada do inquérito original do “quadrilhão” que
tramita no STF e investiga a atuação do PT, PMDB e PP na Petrobrás, a apuração
contra os peemedebistas da Câmara mira na atuação desses políticos na indicação
de aliados para postos importantes na Petrobrás e na Caixa. São investigados
também políticos suspeitos de “vender” requerimentos e emendas parlamentares
para beneficiar empreiteiras e banqueiros.
São alvo da investigação Cunha, o
ex-ministro Henrique Eduardo Alves, Funaro e outros 12 suspeitos. A maioria das
provas coletadas contra eles está relacionada às Operações Sépsis e Cui Bono?.
Além disso, as delações da Odebrecht e da JBS relatam uma série de atuações
desse grupo político em troca de pagamento de propina. Nas duas delações, Temer
é apontado como líder do PMDB da Câmara.
Na denúncia por corrupção passiva, a PGR
pediu que o presidente fosse incluído no rol de investigados no inquérito do
“quadrilhão” do PMDB da Câmara. No entendimento dos procuradores, a inclusão é
possível porque a suspeita envolve crime que teria sido cometido no exercício
do mandato. A apuração sobre a obstrução da Justiça está em andamento e aposta
no acordo de colaboração de Funaro ou no de Cunha como complemento à delação de
Joesley.
O presidente nega envolvimento em
irregularidades e nos casos em que é citado. Em sua defesa, atacou a acusação
do procurador-geral da República e o Ministério Público Federal.
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