Rádio Voz do Maranhão

segunda-feira, 8 de fevereiro de 2021

Lavrador que escapou da morte após ser torturado por PMs reaparece e conta detalhes do assassinato de comerciante em Bacabal; veja o vídeo

O lavrador José de Ribamar Neves Leitão, conhecido como “Riba”, residente na cidade de Bacabal, que estava desaparecido desde o dia 1º de fevereiro, reapareceu na madrugada desta segunda (8).

Ele presenciou a tortura e execução do comerciante Marcos Santos, conhecido como Marquinhos, encontrado morto na manha de terça-feira (2) na área da Fazenda Cancelar, em São Luís Gonzaga do Maranhão.

O lavrador afirma que ficou uma semana escondido no mato após escapar de execução que seria praticada por um grupo de policiais militares que mataram o comerciante.

José Leitão foi acusado pelos PMs de estar envolvido no roubo de carneiros da fazenda em que ele trabalhava. Os animais teriam sido, segundos os PMs, vendidos ao comerciante “Marquinhos”.

O lavrador foi sequestrado e levado para ser torturado. O objetivo era fazê-lo confessar a prática do crime. Como ele não confessou, foi amarrado e colocado em um carro. Em seguida, os PMs foram sequestrar o comerciante Marquinhos em sua residência. Ele também foi torturado barbaramente. Como não confessou o crime, terminou sendo morto pelos policiais.

Relato feito ao advogado Bento Vieira

Durante relato feito ao advogado Bento Vieira, com transmissão pelo Facebook, na manhã desta segunda-feira (8), Riba contou que foi levado por policias para ser morto, no dia em que os mesmos PMs levaram o comerciante Marcos Santos. Ele afirmou que viu o comerciante ser torturado e morto pelos policias, sendo que o genro do dono da fazenda fez parte da execução.

“Na manhã de segunda-feira eu fui trabalhar, trabalhei até meio dia, quando cheguei do serviço, estava seu Gilberto falando com o sogro dele, fomos almoçar e ele disse para o Everaldo que ia

me levar para o São Sebastião buscar sementes. Aí ele me levou de carro para uma rua sem saída, onde uma outra pessoa chegou em um carro. Aí o policial me disse que a gente não ia buscar sementes. Aqui é sobre os carneiros, porque eu já puxei a tua ficha todinha e com quem tu trabalhava. Tu trabalhava com Marquinho e eu sei que tu roubou esses carneiros e vendeu pro Marquinhos”, relatou o lavrador.

Riba disse que afirmou para o policial que não tinha roubado carneiro nenhum, pois tinha passado o dia procurando os animais. O lavrador relatou quem mesmo após ter negado o crime, ele teve as mãos e os pés amarrados pelos policiais, foi espancado e depois jogado no porta-malas do carro.

“Aí o sargento (Pinho) chegou e já foi logo batendo na minha cara, já foi logo me esmurrando. E me amarraram as duas mãos e os pés, me derrubaram no chão, o sargento Pinho sentou em cima de mim e o seu Gilberto agarrou na minha garganta”.

Após ser jogado na mala do carro, o lavrador relatou que os policiais foram até o comerciante Marcos e o colocaram no carro também. Riba conta que depois os PMs puxaram a garganta de

Marcos e desferiram socos no rosto do comerciante. Os policiais amarram os pés de Marcos, jogaram água no rosto dele, mandaram uma pessoa pular em cima da barriga e dos peitos do comerciante e depois colocaram um pano no rosto dele e começaram a jogar água.

O comerciante Marquinhos foi torturado e morto pelos PMs

“Eles foram matando ele asfixiado. Eles não davam chance nem dele falar, nem para ele se explicar. Molharam uma camisa e começaram a bater na cara dele até que ele parou de respirar e não resistiu. Aí ele disse, agora que esse aqui morreu e esse daqui ainda está vivo, vamos levar ele para matar lá no São Sebastião”, disse.

O lavrador contou que ouviu os policias combinarem de levar ele para uma fazenda, para simular um confronto entre ele e os policiais, para justificar a morte do lavrador, que seria morto a tiros.

“Aí disseram, ajoelha. Aí eu disse, pelo amor de Deus, não me mata, eu tenho minha família. Ele disse, aqui não tem negócio de Deus não, de família, tem negócio de filho aqui não, tu vai morrer,

tu tem que morrer. A única prova é tu. Aí eu pedi pra Deus, me ajoelhei, aí ele colocou a arma na minha cabeça, quando ele apertou o dedo a arma não disparou. Nessa hora eu corri, eu criei

forças na minha perna e corri. Nessa hora eles começaram a atirar, deram uns dez tiros atrás de mim. Eu passei a noite todinha correndo, com eles atrás de mim. Eu não podia sair de onde eu estava escondido, para poder ir numa casa beber uma água, porque eles já estavam atrás de mim para me matar”, relatou o lavrador.

O secretário de Segurança Pública, Jefferson Portela, foi até Bacabal para ouvir o depoimento do lavrador.

“Ainda bem que ele foi encontrado com vida e pronto para ser ouvido e falar oficialmente sobre esses fatos. Muito importante ele ter sido localizado, porque teremos o conjunto de quem estava no cenário das circunstâncias desse fato e que poderá narrar livremente tudo aquilo que precisa ser coletado dentro do inquérito policial e encaminhado ao poder judiciário”, informou o secretário.

Policiais estão presos

Os cinco policiais militares suspeitos do assassinato do comerciante Marcos Santos estão presos na capital, desde a semana passada, após a polícia encontrar o comerciante morto. São eles, o tenente Pinho, o sargento Custódio e os cabos Robson, Rogério e Henrique. Eles foram ouvidos e transferidos para o presídio da Polícia Militar em São Luís.

Imagens de câmera de segurança mostram a vítima entrando em um carro com os PMs à paisana na tarde de segunda-feira (1º). O vídeo mostra que é o tenente Pinho quem conduz o comerciante

para dentro do veículo. Depois do ocorrido, a vítima ficou desaparecida. O corpo foi encontrado na manhã de terça-feira (2)  com marcas de tiros e sinais de violência, em estrada que dá acesso ao município São Luís Gonzaga.

O tenente Pinho estava com ferimento de tiro na perna e afirmou, em depoimento à polícia, que foi ferido em confronto com supostos ladrões. Em depoimentos, os militares suspeitos do crime disseram que investigavam roubo de carneiros na região.

“Tudo que foi dito como versão da parte dos agentes públicos de segurança, policiais, não está se configurando como realidade material”, disse na ocasião o secretário estadual Jefferson Portela.

Com informações do Imirante

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