Carlos Madeiro
Colaboração para o UOL, em Bacabeira e Rosário (MA)
O sonho de ganhar a maior refinaria da América Latina levou os municípios
de Bacabeira (a 61 km de São Luís) e Rosário (a 69 km da capital maranhense) a
viver dias de prosperidade, mas isso durou apenas até o início de 2015.
No dia 28 de janeiro daquele ano, em meio à crise e às denúncias de
corrupção, a Petrobras anunciou o cancelamento da obra. Quase dois anos e meio
depois, a região coleciona construções abandonadas, que mais lembram cidades
fantasmas, ao lado
do que seria a refinaria Premium 1.
"Investi o que tinha e o que não tinha para construir 20 quitinetes
e alugar a trabalhadores. Pago até hoje e não tive retorno nenhum. Virou um
elefante branco", conta Helena Maria de Souza, 56, empresária de Rosário.
"Quando olho, me dá
tristeza", completa.
A área onde seria erguida a refinaria equivale a 250 campos de futebol e
foi toda tratada para receber o empreendimento. Mesmo sem erguer tijolos, a
preparação e as indenizações custaram R$ 2,6 bilhões (valores atualizados)
entre 2008 e 2014. Após o aterro e a destruição da vegetação, que causaram um dano ambiental
considerado irreversível, a área está tomada pelo mato.
Helena e o marido já eram donos de um restaurante e de um hotel em
Rosário. No início da década, ela diz que a chegada de trabalhadores e o
avançar da obra alavancaram a economia da cidade e os inspiraram a investir.
"Quando começou a obra, alugamos o hotel para a construtora, e o
tempo todo eles diziam que investisse, que ia ter retorno. Então, o que ganhei
com o aluguel investi [nesse negócio]. Poderia ter guardado, mas fui cair nessa besteira",
diz.
Ainda pagando pela obra, ela revela que apenas duas das 20 quitinetes
estão alugadas. "Não sei nem o que fazer. Aqui no comércio está tudo
parado. Tem dia que dorme eu e meu marido só no hotel. Hoje mesmo só tem dois
hóspedes, e temos 16 quartos", afirma.
Cenário fantasma
O UOL visitou as duas cidades e viu um cenário de prédios inacabados e abandonados
por toda a BR-402, que liga as duas cidades e onde seria erguida a refinaria
--que deveria ter entrado em operação em 2015.
Em muitos trechos, as construções fechadas e inacabadas lembram uma
cidade fantasma. "Tá tudo parado, não tem serviço para ninguém. Muita
gente foi embora. Se não fosse a minha roça, não teria do que viver", conta o
agricultor Sidnei Vieira, 34, que foi um dos desalojados pela obra da refinaria
e recebeu terras e uma casa da Petrobras.
Hoje, ele e mais cerca de 40 famílias moram no conjunto Val Paraíso, em
Rosário. "Deram essa terra, mas não serve para plantação porque é uma área
alagada, não segura nada que plante. A terra boa era a que eles tiraram de
nós", afirma Rosmino dos Santos, 55.
O local da obra é protegido por seguranças, e o acesso --também protegido
por cercas-- é proibido. Por ora, não há informações sobre o que o será do
local, que foi terraplanado e está inutilizado para a agricultura.
"Veio muita gente de outras cidades que imaginava ganhar
dinheiro", conta Raimundo da Silva, 58, que mora em Bacabeira, em frente à
obra. "Era muita gente aqui, animou o comércio, mas acabou tudo."
Entre os moradores, o anúncio da Petrobras caiu como uma bomba.
"Todo mundo se frustrou demais, todos esperavam viver dias melhores",
completa a mulher de Raimundo, Antônia Almeida, 54.
Governo busca novos
parceiros para projetos
Procurada, a Petrobras informou apenas que o projeto das refinarias
Premium 1 e 2 "não constam no seu Plano de Negócios e Gestão 2017-2021 e
não há intenção de participar como sócia em eventual retomada do projeto".
A empresa não informou o que será feito da área e disse não ter
conhecimento de ações individuais de ressarcimento relacionadas ao cancelamento
da obra.
Já o governo do Estado garante que não desistiu da proposta e busca
parceiros para levar adiante a obra. Há também outras ideias para as cidades,
como um parque ecológico que será erguido na cidade de Bacabeira.
Além disso, o governo informou que já possui memorandos assinados com empresas
e que vai anunciar projetos em breve quando tiver algo "mais
concreto".
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