Chico Siqueira, especial para O Estado
Em sua primeira entrevista após ter
apontado um esquema de venda de emendas na Assembleia Legislativa de São Paulo,
o deputado estadual Roque Barbiere (PTB) disse que confirmará as denúncias no
Conselho de Ética da Casa e ao Ministério Público. Segundo ele, empreiteiras
“compram” dos deputados as emendas parlamentares e as oferecem aos prefeitos do
interior.
Barbiere disse não estar arrependido de
ter feito as acusações, mas evitou dar nomes e admitiu que pode ter exagerado
em alguns detalhes. “Pode ser que tenha errado na porcentagem, para cima ou
para baixo, mas não errei ao fazer a denúncia”, afirmou, ao se referir ao
número de deputados que estariam envolvidos com o suposto esquema de venda de
emendas. Conforme mostrou o Estado, ele envolveu 30% da Assembleia na acusação.
O Ministério Público abriu inquérito para investigar o caso e quer mais
detalhes .
“Eu cometi injustiça com parte da Casa,
que não está envolvida nisso”, disse, procurando inocentar todos os deputados
de primeiro mandato. “Eles desconhecem o esquema ou não tiveram nem tempo de
apresentar emendas. Posso ter errado na dose, mas a doença existe.”
De acordo com o deputado, cujo
depoimento é esperado para os próximos dias, a decisão de fazer a denúncia foi
tomada depois de constatar que colegas estavam negociando as emendas
orçamentárias e que, mesmo alertados, deputados e governo não reagiram. “Houve
falta de princípios por parte deles. Fiz os alertas e não me atenderam.”
Segundo Barbiere, a origem do esquema
está na disputa pela presidência da Assembleia em 2005, quando Rodrigo Garcia
(DEM), hoje secretário de Desenvolvimento Social do Estado, venceu o também
secretário Edson Aparecido (Desenvolvimento Metropolitano). As emendas teriam
entrado na negociação política.
“Nos governos anteriores não havia essa
negociação com emendas. Elas surgiram dessa maneira, há sete anos, como traição
ao governo”, afirmou Barbiere. Edson Aparecido era o candidato de Geraldo
Alckmin a presidente da Assembleia.
O deputado disse que seu objetivo é
lutar pelo fim do sistema de emendas porque, além de servir para negociatas, o
valor total (R$ 2 milhões) que cabe a cada deputado é insuficiente para atender
o eleitorado. “No meu caso, por exemplo, se for distribuir para 50 prefeituras,
vai ser R$ 40 mil, um valor muito baixo, insuficiente para uma boa obra. E, se
distribuir só para algumas prefeituras, os outros prefeitos vão ficar
enciumados porque receberam menos”, explicou.
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