Executivo da empreiteira afirma ter
repassado recursos a pedido do presidente da República e o ex-deputado Eduardo
Cunha
Por
Daniel Pereira e Robson Bonin
Veja
Um dos principais executivos da
construtora Odebrecht, o empresário Márcio Faria da Silva disse à
Procuradoria-Geral da República que operacionalizou o repasse de recursos a
pedido do presidente Michel Temer e do ex-deputado Eduardo Cunha (PMDB-RJ). A
liberação do dinheiro, segundo contou, estava vinculada à execução de contratos
da empreiteira com a Petrobras. A informação consta no acordo de delação
premiada assinado pelo executivo. Em 2010, Michel Temer recebeu, em seu
escritório político em São Paulo, Márcio Faria da Silva para uma conversa, da
qual também participaram Eduardo Cunha e o lobista João Augusto Henriques,
coletor de propinas para o PMDB dentro da Petrobras.
O Palácio do Planalto confirmou o
encontro, mas informou que foi Cunha quem pediu a conversa a Temer, dizendo que
o executivo gostaria de conhecê-lo. A
assessoria do presidente acrescentou que na reunião, que teria durado cerca de
20 minutos, não se tratou de questões financeiras, mas só de formalidades. Nada
além disso. “Se, depois da conversa de apresentação do empresário com Temer,
Eduardo Cunha realizou qualquer acerto ou negociou valores para campanha, a
responsabilidade é do próprio Eduardo Cunha”, afirmou a assessoria de Temer.
Márcio Faria da Silva é um dos 77
delatores da Odebrecht. Entrou na empresa em 1978 e escalou de forma meteórica
o seu organograma, tornando-se um dos principais executivos da construtora. No
comando da Odebrecht Engenharia Industrial, participou de grandes obras da
Petrobras, como o Complexo Petroquímico do Rio de Janeiro (Comperj) e as
refinarias de Abreu e Lima, Araucária e São José dos Campos. Um de seus
principais contatos na estatal era Paulo Roberto Costa, ex-diretor de
Abastecimento.
Representante de interesses
suprapartidários, inclusive do PMDB, Costa disse à força-tarefa da Lava Jato
que negociou o repasse de propinas com Márcio Faria da Silva. Operador do
petrolão, o doleiro Alberto Youssef ratificou essa versão, o que levou o
Ministério Público a processar o executivo por improbidade administrativa. Para
o MP, ele teve papel decisivo na costura do cartel de empreiteiras que fraudou
contratos e desviou bilhões de reais da Petrobras.
Márcio Faria da Silva é o segundo
executivo da Odebrecht a implicar Temer no esquema de corrupção investigado
pela Lava Jato. Ex-diretor de Relações Institucionais da empresa, Cláudio Melo
Filho contou que num jantar em maio de 2014, no Palácio do Jaburu, o então
vice-presidente Michel Temer, acompanhado do então deputado Eliseu Padilha,
pediu uma ajuda financeira a Marcelo Odebrecht. Ficou combinado o repasse de 10
milhões de reais, dos quais 6 milhões de reais foram reservados para Paulo
Skaf, então candidato do PMDB ao governo de São Paulo, e 4 milhões de reais
para Eliseu Padilha, hoje chefe da Casa Civil.
VEJA revelou o caso em agosto passado.
Ao assinar seu acordo de delação premiada, Melo Filho detalhou um pouco mais o
rateio do butim. Ele declarou que parte dos 4 milhões de reais foi entregue em
espécie no escritório de advocacia de Eliseu Padilha em Porto Alegre. Outra
parte, também não especificada, foi entregue em dinheiro vivo no escritório de
advocacia de José Yunes, o amigo de Temer que se demitiu ontem do cargo de
assessor especial do presidente. Melo Filho diz ter ouvido do próprio Padilha
que 1 milhão de reais foi entregue a Cunha. O ex-deputado, portanto, teria se
beneficiado dos valores pedidos por Michel Temer a Marcelo Odebrecht.
Preso pela Operação Lava Jato, Cunha era
operador financeiro do PMDB. Foi ele quem conseguiu da própria Odebrecht
doações generosas a políticos ligados a Michel Temer — entre eles, o
ex-presidente da Câmara Henrique Eduardo Alves, investigado no petrolão, e
Gabriel Chalita, candidato peemedebista à prefeitura de São Paulo em 2012. É
esse um dos motivos que justificam a apreensão do governo com a eventual
delação premiada do ex-deputado, preso pela Operação Lava Jato. (Com reportagem
de Hugo Marques)
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